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Pretendemos nessas breves reflexões conjuntas explorar a harmonia crítica que se estabelece entre Hannah Arendt e Giorgio Agamben, mormente em relação às idiossincrasias do homem qualificado como animal laborans e da máquina antropológica, com a finalidade maior de expor algumas associações entre animalização e despolitização. Por um lado, temos a percepção de que o homem moderno reduziu a vida comum a uma única dimensão da existência, a ocupação com o processo metabólico e a labuta para a manutenção dessa mesma existência, tornando a política agora capturada por essa priorização, abandonando-a ao fim. Entre o labor do consumo, o trabalho da fabricação e a ação da política, perdeu essa última definitivamente o seu espaço original. Em uma curiosa aproximação entre o animal e o consumidor, a vida vitoriosa do animal laborans, presa na dinâmica do consumo desenraizado, será então a única que interessará ao homem moderno. Por outro lado, uma furiosa máquina antropológica que atravessa os tempos cospe produtos em dois sentidos: humaniza o animal e animaliza o ser humano, isolando-o em uma vida nua. Se a vida biológica se torna uma tarefa política no horizonte da biopolítica, a vida nua ainda que não seja necessariamente animal será a insígnia de uma vida tornada novamente animal. Tanto o animal laborans quanto o resultado da máquina antropológica na sua versão moderna são entes que perderam a sua vocação política, são seres antipolíticos, esvaziados de ação, de discurso, de direitos, de capacidade de compreensão.
Atualmente, o republicanismo é acusado de pensar a virtude cívica como ligada a um ideal da vida boa e, portanto, impossível de ser concretizado em sociedades modernas, plurais e neutras. Por outro lado, o liberalismo é acusado de basear sua argumentação no ideal da autonomia do indivíduo, levando à fragmentação política. Diante desse embate, pretendemos apresentar a virtude cívica republicana como uma das virtudes políticas exigidas pelo liberalismo político. A adequada fundamentação dessa hipótese permitirá dar sentido às recentes propostas de um republicanismo liberal como resposta a alguns dos problemas atuais das democracias liberais.
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