O artigo traz reflexões sobre a noção de alimentação saudável, produzida no imaginário social na sociedade ocidental contemporânea, orientada por uma concepção de saúde reduzida à busca de cura ou prevenção da doença. Subsídios teóricos das Ciências Sociais e Humanas propiciaram melhores condições para compreender a alimentação como temática intersticial de articulação entre o biológico e o psicossocial. Destacamos a alimentação saudável derivada da racionalidade científica moderna e de normatividade geral e problematizamos a discursividade da promoção da alimentação saudável a partir do conceito de biopoder de Foucault. Não negamos o valor das evidências epidemiológicas sobre a relação direta entre alimentação e adoecimento e reconhecemos que conhecer é melhor do que ignorar quando é preciso agir. No entanto, por entendermos que para o (re)estabelecimento da saúde, em nutrição, é necessário mais do que prescrever nutrientes e alimentos, acreditamos que não devemos normatizar a alimentação e olhar para a informação científica como algo absoluto. Instrumentos conceituais e fundamentos teóricos que não estão no "verdadeiro" do discurso biológico fazem-se necessários nas proposições sobre a alimentação saudável, uma vez que interesses políticos e econômicos dos setores hegemônicos ligados à dimensão biomédica não deixam muito espaço para a discussão das questões psíquicas e sociais
A trajetória coletiva traçada pela Nutrição manifesta-se no fato de que ela se naturaliza como uma profissão feminina e nos remete às discussões sobre a distinção entre gêneros tal como a concebemos contemporaneamente. A partir de uma concepção de gênero como uma construção histórica e cultural, e não da natureza, propomos uma reflexão acerca da formação profissional centrada na questão do gênero como categoria analítica. Acenamos para a articulação entre o trabalho profissional e o trabalho doméstico, confundindo a esfera privada com a pública, o que pode ter contribuído para a dificuldade inicial de se traçar a identidade profissional do nutricionista. Apontamos, ainda, para a articulação entre nutrição e gênero, também fruto de um habitus que naturaliza a profissão do nutricionista como feminina. Palavras-chave:Nutrição. Gênero. Profissões. AbstractThe collective trajectory traced by Nutrition is manifested in the fact that it is naturalized as a female profession and arises the discussion on the distinction between genders as conceived contemporaneously. From a gender conception as a historical and cultural construction, we propose a reflection of professional qualification focused on gender as an analytic category. We indicated the relationship between the professional and the household works confusing the private space with the public, which may have contributed to the initial difficulty in outlining Demetra; 2016; 11(3); 773-788 774 the professional nutritionist identity. Likewise, we pointed to links between nutrition and gender, also as result of a habitus that naturalizes the profession of nutritionist as feminine.A Nutrição faz parte do conjunto de profissões ditas como "femininas" no Brasil. O Conselho Federal de Nutricionistas, 1 ao buscar um retrato ampliado do nutricionista no país, no que diz respeito às características sociodemográficas, formação, exercício profissional, entre outros, identificou que 96,5% eram mulheres. Esta presença marcante vem de sua aproximação com a primeira profissão feminina universitária -a enfermagem, fortemente atrelada à necessidade social do cuidar.Os cuidados com a alimentação inseriam-se entre outras funções da enfermeira consideradas indispensáveis ao bem-estar do paciente. Contudo, é preciso registrar que o movimento de industrialização brasileiro e a emergência dos conhecimentos sobre nutrição, nas décadas de 1930 e 1940, são indicados na literatura como parte importante do cenário de constituição da profissão de nutricionista. 2,3 Esse movimento vai ao encontro das mudanças observadas no cenário global a partir da Segunda Grande Guerra. Observa-se um momento de redistribuição da mão de obra feminina no mercado de trabalho, inserindo-se em atividades antes ocupadas apenas por homens, como por exemplo, a engenharia. 4 Os primeiros cursos de Nutrição no Brasil, inclusive, datam desse período, com a criação dos cursos técnicos de nível médio para formação de nutricionistas-dietistas. O Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), a que tinha como função gar...
Artigo de revisão Resumo Considerando o atual panorama epidêmico do excesso de peso e da obesidade no Brasil, o artigo pretende analisar como a adoção de uma visão transdisciplinar permite trazer à tona o processo em curso de moralização e estigmatização do qual são alvo as pessoas que se encontram acima peso corporal ideal. Buscamos a aproximação ao tema pela via da subjetividade a partir da compreensão dos sentidos associados ao corpo ao longo da história discutidos por Georges Vigarello e do conceito de estigma apresentado por Erving Goffman para apontar a crescente responsabilização e culpabilização do indivíduo. Algumas implicações sociais, políticas e econômicas desse fenômeno também são expostas.
Com o objetivo de avaliar a alteração da qualidade interna de ovos armazenados sob refrigeração e à temperatura ambi~ ente, analisaram-se 360 ovos brancos armazenados durante 18 dias. Metade das amostras manteve-se à temperatura de 4±1°C, e a outra a 25±1°C. Um total de 15 ovos, de cada tratamento, foi periodicamente avaliado para as variáveis: altura da câmara de ar, unidade Haugh (UH), índice da gema (IG), pH da clara e da gema, estabilidade da espuma e sólidos da clara e da gema. Quando comparados os dois tratamentos, os resultados para altura da câmara de ar, estabilidade da espuma, sólidos da clara e da gema e pH da clara e da gema, não mostraram variância significativa durante o período de armazenamento. Apesar de haver sido observada diferença significativa entre os dois tratamentos para as medidas de UH e IG, somente a UH mostrou-se confiável para a avaliação rotineira de qualidade dos ovos armazenados com e sem refrigeração. Finalmente, confirmou-se que o armazenamento à temperatura de refrigeração mantém por mais tempo a qualidade interna de ovos.
El objetivo de este artículo es analizar la estructura conceptual subyacente de los modelos preventivos sobre la obesidad implementados en Argentina, Brasil y España. En un contexto culturalmente distinto, pero epidemiológicamente similar, los tres países han diseñado sus estrategias, reproduciendo el diagnóstico global sobre sus causas y replicando algunas de las medidas propuestas a nivel mundial. Mientras que los denominados “ambientes obesogénicos” son considerados los principales responsables de estas tendencias, las acciones de educación alimentaria y nutricional promueven la autovigilancia y la racionalización de las prácticas como herramienta principal para lograr cambios en la dieta y la actividad física. Aunque las medidas propuestas a nivel local han sido variadas, fueron menos plurales en cuanto a su naturaleza y alcance, y apenas se incorporan las limitaciones que dificultan adoptar estilos de vida saludables. En contextos de precarización social y alimentaria, esto ha supuesto desconsiderar a los grupos sociales con mayor prevalencia de obesidad.
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