Este artigo empreende uma investigação epistemológica e lógica sobre a linguagem, filiada à análise do discurso pêcheutiana, procurando verificar quais as condições lógicas para a existência da linguagem. Para realizar tal tarefa, é preciso ir até a fronteira da linguagem, aqui tratada como o silêncio. Argumentamos que o silêncio e também o interdito constituem-se como condições estruturantes e constitutivas para a existência da linguagem. Nossa tese central é a de que, para que se diga algo, é preciso que outros dizeres possíveis sejam silenciados, tanto num sentido estrutural, quanto no que tange a silêncios locais (censura). Nesses termos, consideramos o silêncio como causa necessária, mas não suficiente, do dizer. Esse deslocamento se dá através do acréscimo do operador do interdito à reflexão. A verificação das condições de existência da linguagem requer uma investigação que leve a questão para além dos preenchimentos imaginários do discurso, da linguagem e do dizer, motivo pelo qual escolhemos o caminho da lógica, e não um caminho histórico, embora a questão da história seja fundamental para a compreensão dos discursos.
O presente trabalho, situado no campo da análise do discurso de Pêcheux, numainterface com a psicanálise, trata o interdito e o silêncio como constitutivos efundadores do discurso. Resumidamente, afirmamos que para que seja possívelque se diga algo é preciso que não se diga tudo. Fazemos uma abordagemdessas questões com base nas modalidades aléticas da lógica aristotélica. Paratal tarefa, tratamos a questão do dizer a partir do quadrado lógico aristotélico.Propusemos e construímos um quadrado do dito e da enunciação
Artigo IntroduçãoEm trabalhos anteriores temos afirmado que o interdito é fundador do discurso (TFOUNI, F., 1998(TFOUNI, F., , 2006(TFOUNI, F., , 2008(TFOUNI, F., , 2010. Essa hipótese aponta para o fato de existir um impossível na linguagem que é constitutivo e fundador. Se existisse um enunciado que fosse completo no sentido de dizer tudo, então, após tal enunciação não haveria mais o que dizer e o campo da enunciação fechar-se-ia. Isso seria a morte da linguagem. Assim, a linguagem precisa ser incompleta e faltante para que se possa dizer alguma coisa. Justamente porque existe uma falta na linguagem, é que se pode continuar dizendo, pois, a completude não chega nunca. Nesse sentido tomamos aqui a tese lacaniana trabalhada também por Milner (1987) que afirma que "tudo não se diz".Como o sistema da língua é marcado por um furo do real no simbólico, e, visto que este último não recobre totalmente aquele, haveria ao menos um elemento do simbó-lico fora do sistema. Então, podemos dizer que o interdito, o silêncio e o impossível são necessários para a estrutura, que aqui não corresponde à estrutura fechada de Saussure. Ela antes comporta uma falta, ou seja: trata-se de algo incompleto. Por isso a análise do discurso tem preferido falar em sistematicidade, mais do que em sistema. Sobre as formas do silêncio, Orlandi (1995, p. 24) afirma:Por isso distinguimos entre a) o silêncio fundador, aquele que existe nas palavras, que significa o não dito e que dá espaço de recuo significante, produzindo as condições para significar e b) a política do silêncio que se subdivide em b1) silêncio constitutivo, o que nos indica que para dizer é preciso não dizer (uma palavra apaga necessariamente as outras palavras) e b2) o silêncio local, que se refere à censura propriamente (aquilo que é proibido dizer em uma certa conjuntura).A censura impede a circulação dos sentidos localmente. Como afirma Orlandi, a censura é a proibição do formulável. Essa proibição local seria a forma fraca do interdito. No entanto, a própria autora aponta para um outro tipo de proibição do dizer, que não caracterizamos como proibição, mas como delineada pelo impossível. Há uma parte do campo dos sentidos que nunca dizemos e, que não chegamos nem mesmo a formular ou a reconhecer. Este seria um interdito estrutural. O impossível de dizer, enquanto necessidade estrutural da linguagem deve ser universal, deve estar em toda estrutura de linguagem e em toda enunciação.Já o interdito é o agente que corta limitando e separando o que pode do que não pode ser dito. Comentamos anteriormente como ele possui valor estrutural. Pois bem: a censura -o ato de censurar -é uma manifestação local da necessidade estrutural de uma interdição na linguagem. De modo geral, toda estrutura comporta um impossível. O proibido é uma manifestação local do impossível. Mais adiante vamos trabalhar detalhadamente essa questão.O objetivo específico deste trabalho é o de argumentar que existe um não-dito estrutural e não ditos locais como a censura, que os não ditos locais são manifestações ...
O presente trabalho - situado no campo da Análise do Discurso de Pêcheux (AD), numa interface com a psicanálise - trata o interdito e o silêncio como constitutivos e fundadores do discurso. A lógica subjacente é a lógica lacaniana segundo a qual o excluído ou a contradição funda o possível. Para tal tarefa usamos as quatro modalidades da lógica alética aristotélica e tratamos o quadrado lógico. Propomos e construímos um quadrado do dito e da enunciação. As análises de alguns enunciados indicam a presença do impossível na linguagem, e atestam a importância, bem como a pertinência, de um tratamento modal da linguagem.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
customersupport@researchsolutions.com
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.
Copyright © 2025 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.