ResumoA discussão engendrada neste artigo versa sobre as possíveis relações entre os discursos veiculados na mídia televisiva sobre a atenção à saúde, enfocando mulheres que fazem uso de crack e na reprodução do "novo racismo" -expressão empregada no campo dos Estudos Críticos do Discurso. Ainda, observamos as possíveis interlocuções do novo racismo com os discursos relacionados aos direitos sexuais e reprodutivos. Trata-se de um levantamento de documentos de domínio público, que tem como referencial teórico-metodológico os Estudos Críticos do Discurso, assim como os pressupostos da Psicologia Social Crítica em articulação com os Estudos de Gênero. Concluímos que quando o discurso midiático em foco, transmissor da ideologia das elites simbólicas, aborda as mulheres que usam crack na gravidez como um problema social desvinculado do contexto histórico, político e sociocultural, reproduz um novo racismo. Em virtude do caráter de legitimidade dos meios de comunicação de massa, as atitudes racistas são compartilhadas na sociedade, aprofundando-se, assim, as iniquidades sociais e as discriminações de gênero.
RESUMO Este artigo resultou de uma pesquisa etnográfica sobre a atenção a gestantes que usam crack, tomando como fio analítico-conceitual a noção de economia moral. A etnografia foi realizada em dois serviços públicos de saúde (Hospital e Consultório na Rua). Visou-se analisar uma das dimensões que conformam a economia moral, os elementos referentes aos modelos de atenção e como esses são enfatizados e atualizados nos serviços. Percebeu-se que elementos dos modelos, ao serem acionados nos serviços, influenciam as práticas de cuidado, refletindo na percepção e posicionamento das equipes diante da relação com as gestantes, bem como do tratamento e direitos delas e de seus bebês.
This work aims to present the results of the quantitative part of the research project entitled "Ideology, production of subjectivities and drugs: media discourse on crack in the (post)modern culture". The methodology consisted of an analysis of the symbolic forms that refer to the crack published in two newspapers of general circulation within the central region of the state of Rio Grande do Sul, Brazil. The descriptive statistical analysis of data was performed using the SPSS v.17 software. The results suggest that these newspapers treated the use of crack as a "police matter", linking it directly to violence. However, there was a lack of in-depth discussions regarding the causes and consequences of this phenomenon.
Resumo Este artigo tem como objetivo debater práticas de cuidado com gestantes usuárias de drogas nas políticas públicas, considerando o modo como relações de gênero influenciam as práticas de saúde. Partimos de uma pesquisa etnográfica realizada em uma unidade de internação psiquiátrica de um Hospital público e em um Consultório na Rua, no Rio Grande do Sul, focando na atenção voltada a gestantes que fazem uso de crack nesses espaços. Fundamentamo-nos teoricamente em estudos feministas interseccionais e descoloniais, bem como na noção de Economia Moral. O uso de drogas para fins recreativos por mulheres é comumente considerado inapropriado e motivo de estigmatizações, pois, ao afastarem-se da normatividade do que se espera sobre ser mulher, elas são, geralmente, julgadas moralmente. Junto a isso, a análise aponta para o modo como a produção biopolítica de um imaginário único sobre a maternidade incide nas maneiras segundo as quais as políticas públicas operam em relação às mulheres, o que se torna um ponto fundamental ao se considerar o contexto social no qual elas estão inseridas. Assim, o artigo destaca a importância de análises interseccionais de gênero, raça e classe no campo das políticas públicas de drogas.
Neste artigo, objetivou-se apresentar a posografia, uma experimentação metodológica em uma pesquisa voltada às práticas de uso de antidepressivos e ansiolíticos, que implica um acesso gradual a partes das práticas que compõem o manejo das aflições. Trata-se de um artigo que pretende, especialmente, discorrer sobre a fundamentação teórica que embasou a construção de tal proposta metodológica. O estudo sustenta-se em uma composição entre uma perspectiva pós-estruturalista de psicologia social e os estudos de ciência, tecnologia e sociedade (ECTS). Diante de um campo que remete a dimensões comumente compreendidas como subjetivas (emoções, sensações, pensamentos), o método posográfico auxiliou a tensionar o que pode ser considerado materialidade e o modo como investigá-la. Ainda, essa estratégia contribuiu para a compreensão de que quanto mais elementos são postos em cena, multiplicam- se versões de diagnósticos, das denominadas aflições, possibilitando que estratégias de cuidado em saúde mental fossem ampliadas.
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