A demência precoce, descrita por Kraepelin há cerca de um século, foi mais tarde designada por esquizofrenia, após a reformulação diagnóstica de Bleuler. Na actualidade o diagnóstico faz-se segundo critérios operacionais recomendados quer pela Associação Americana de Psiquiatria quer pela Organização Mundial de Saúde. Desde a descrição inicial da doença têm sido efectuados inúmeros estudos, com o objectivo de conhecer as suas causas, manifestações e formas de evolução. As teorias da vulnerabilidade-stress são as que melhor integram a pletora de conhecimentos disponíveis sobre esta perturbação, paradigma da psiquiatria e da saúde mental. Servem ainda de fundamento ao tratamento integrado dos doentes, tendo em consideração os diferentes factores biopsicossociais responsáveis pelas recaídas e tipos de evolução clínica. São também um suporte teórico para o trabalho de reabilitação psicossocial dos doentes.DOI: http://dx.doi.org/10.17575/rpsicol.v14i1.517
Resumo Este trabalho é um estudo de replicação das recaídas de doentes esquizofrénicos, num seguimento de 12 meses, e da emoção expressa (EE) das fam ílias dos doentes. Numa amostra de 53 doentes esquizofrénicos crónicos, a EE dos fam iliares foi avaliada pela Camberwell Fam ily Interview (CFI). Os doentes estavam em tratamento psiquiátrico am bulatório com neurolépticos. A análise de conteúdo das entrevistas revelou que 66% das fam ílias eram do tipo EE alta e 34% do tipo EE baixa. Os scores das escalas da C FI foram: comentários críticos 4,1 (média), a hostilidade foi expressa por 15% dos familiares e a sobre-implicação em ocional por 23%. Trinta e sete fam iliares são do sexo m asculino e 41 do sexo feminino. Os fam iliares do sexo fem inino expressaram mais sobre-implicação emocional (37%) que os do sexo masculino (8%). Durante os 12 meses de seguimento, recaíram 57% dos doentes que viviam em famílias de EE alta e 17% dos que viviam em fam ílias de EE baixa. A comparação com os resultados de diferentes estudos realizados em diferentes países mostra m aior semelhança entre os nossos resultados e os dos estudos espanhóis, designadamente em relação ao criticismo dos familiares que é m aior nos estudos anglo-saxónicos. Apesar da dimensão cultural da EE, os resultados confirmam a constatação geral de que recaem mais os doentes que vivem em fam ílias de EE alta. Palavras-chave Esquizofrenia; emoção expressa; recaídas.A esquizofrenia é uma doença mental heterogénea nas suas manifestações sinto máticas e formas de evolução. Esta particularidade desde logo levou os clínicos a estudarem os factores de prognóstico dos diferentes cursos da doença. Na sua mai oria estes factores relacionam-se com aspectos sociodemográficos, formas de início e tipo de resposta ao tratamento psicofarmacológico.Brown, Carstairs e Topping (1958) publicaram um estudo sobre a adaptação pós-hospitalar dos doentes mentais crónicos. Nesse estudo os autores verificaram que, após a alta hospitalar, os doentes que viviam sós ou com um membro da fratria re caíam menos que os que viviam com os pais. As percentagens encontradas foram 17% de recaídas para os primeiros e 36% para os segundos. Esta diferença foi atri buída pelos autores ao tipo de clima emocional das diferentes famílias. 32Filipe Damas dos Reis, e t a i Para avaliar esse clima emocional, Brown e Rutler (1966) elaboraram um guia de entrevista dos familiares a que chamaram Camberwell Family Interview (CFI). Através da análise discriminante identificaram três dimensões nas respostas dos familiares, quando se referiam ao doente, que se relacionavam com a taxa de recaí das num seguimento de nove meses.Estas dimensões são os comentários críticos, (cc), a hostilidade (Ho) e a sobre-implicação emocional (SIE).Foram identificadas, para além destas, outras dimensões, como os comentári os positivos e o calor afectivo, que não revelaram qualquer relação com as taxas de re caídas no período de seguimento considerado.Os autores verificaram ainda que os scores das dimensões da CFI variavam pouco no decur...
A não aderência à terapêutica é uma complicação muito frequente no tratamento dos doentes com esquizofrenia. Este estudo compara a eficácia do tratamento de doentes com diferentes terapêuticas: neurolépticos orais e neurolépticos depôt monitorizados, num período de três anos. Reviram-se os processos clínicos de 183 doentes com o diagnóstico de esquizofrenia, que estiveram sujeitos a tratamento com neurolépticos por um período superior a três anos. Constituíram-se dois grupos: um sujeito apenas a neurolépticos orais (no) e outro a fazer neurolépticos depôt monitorizados (ndm). O grupo ndm teve menor número de recaídas, menos internamentos e duração de internamentos mais curta do que no grupo no. A utilização de ndm mostrou ser uma melhor opção nos últimos doentes com dificuldades de adesão terapêutica.DOI: http://dx.doi.org/10.17575/rpsicol.v14i1.519
Numa amostra de 33 esquizofrénicos crónicos, estudaram-se os efeitos clínicos do tratamento psicofarmacológico com neurolépticos durante 12 meses do seguimento. Os sintomas dos doentes foram avaliados pela PANSS, GAF e impressão clínica global (ICG), no início e fim do seguimento. A emoção expressa (EE) das famílias foi avaliada pela Camberwell Family Interview. Vinte famílias da amostra eram do tipo EE alta e treze do tipo EE baixa. Comparando as melhores clínicas dos doentes nos dois grupos de famílias de EE baixa tiveram melhores resultados na escala de sintomas positivos da PANSS e na GAF que os doentes que viviam com famílias de EE alta. Os resultados parecem estar de acordo com a teoria da activação psocofisiológica (arousal) provocada pelo stress que seria maior nos doentes das famílias de EE alta e menor nos de famílias de EE baixa. Assim, é de admitir que os efeitos da medicação em 12 meses de seguimento possam relacionar-se com o tipo de EE das famílias dos doentes.DOI: http://dx.doi.org/10.17575/rpsicol.v14i1.525
Baseando-se nos dados de um trabalho experimental sobre a conotação semântica do T.A.T., apresentado no 1º Congresso de Psicologia (1979) em Lisboa, o autor faz agora uma análise da sua aplicabilidade clínica. Nesse trabalho foi utilizado um desenho experimental de dois grupos emparelhados que preenchiam um diferenciador semântico (D.S.) de Osgood, quer para as gravuras T.A.T. quer para as histórias através delas narradas. Identificaram-se três parâmetros estruturais de «processos T.A.T.»: a conotação semântica, a ressonância afectiva e os títulos-temáticos. Os coeficientes de correlação entre os D.S. das gravuras e os D.S. das histórias, dão-nos uma informação acerca do grau de indução da conotação semântica do discurso pela conotação das gravuras. São as seguintes as gravuras cujos coeficientes foram superiores a .70: 1, 3 BM, 6 BM, 10, 13 MF e 20. Como se tratava de dois grupos de 30 indivíduos do sexo masculino com idades compreendidas entre 20 e 40 anos, foram usadas as seguintes dez gravuras: 1, 3BM, 5, 6 BM, 7 BM, 10, 12 M, 13 MF, 14 e 20. As gravuras cujas conotações semânticas se revelaram significativas (p<.05) foram: 1, 3 BM, 6 BM, 10, 13 BM, 14 e 20. Os títulos-temáticos permitiram sistematizar-se um atlas-semiológico das gravuras. A ressonância afectiva, sendo um parâmetro mais subjectivo, refere-se à tonalidade emocional das histórias. O emprego clínico dos três parâmetros como complemento de outras grelhas de análise permite-nos, por corresponder a um mais profundo conhecimento do material que compõe o teste, melhor fundamentar o diagnóstico.
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