Percepções apressadas afirmam que os problemas do colonialismo foram dissolvidos, finalizados, e que agora vivemos numa época livre de qualquer conflito ou tensão. O pensamento pós-colonial acena o contrário. Persiste um nítido reconhecimento que forças de dominação apenas se ressignificaram, marcando a passagem de uma configuração ou conjuntura histórica de poder para outra, assim, problemas de dependência, subdesenvolvimento e marginalização, situações bem características do período colonial, persistem de maneira vigorosa na pós-colonialidade. Num esforço para descolonizar o currículo da Educação Física, um grupo de docentes deixou-se inspirar pelos argumentos pós-colonialistas e desenvolveu experiências pedagógicas em escolas públicas de Ensino Fundamental. Os documentos que os professores produziram como forma de registro da prática pedagógica foram submetidos ao confronto com o referencial pós-colonial de Homi Bhabha e da perspectiva cultural da Educação Física. Os resultados evidenciam uma prática político-pedagógica a favor de quem sofreu, e ainda sofre, com a mão pesada do poder imperial colonial.
Em meio à Modernidade, uma única forma de viver foi alçada como legítima e verdadeira, representando os efeitos do curso civilizatório. Essa dinâmica levou à consumação de inúmeras vidas, experiências foram dispersadas, conhecimentos exterminados e determinados modos de ser, apagados. A educação institucional e a ciência serviram a esse propósito de caráter colonial, patriarcal e capitalista. A pedagogia moderna é herdeira desse legado pautado na ideia de progresso por meio da razão e do desenvolvimento científico com a promessa da formação de um suposto sujeito autônomo, consciente e, sobretudo, livre. O currículo cultural da Educação Física faz frente a tais intenções ao assumir uma postura em defesa das diferenças. A presente pesquisa analisa se e como um professor que afirma colocar em ação a proposta valoriza os saberes dos alunos acerca da prática corporal tematizada. Para tanto, buscou apoio na forma qualitativa de investigação por meio da observação participante e de conversas em grupo. Os materiais produzidos quando submetidos ao confronto com o pensamento decolonial do grupo latino-americano Modernidade/Colonialidade, as epistemologias do Sul de Boaventura Sousa Santos e o pós-colonialismo de Homi Bhabha, indicam que os alunos percebem o ambiente propício à escuta, o que os motiva a expor seus gestos e saberes. Essa constatação permite inferir que ao colocar em ação a Educação Física culturalmente orientada, o professor se deixa guiar pelo princípio ético-político que favorece a enunciação dos saberes dos alunos.
Design da capa Pryscila Rosy Borges de Souza Imagens da capa www.canva.com Revisão de texto Os autores Bibliotecária
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