ResumoEsta dissertação, apresenta um estudo sobre como as comunidades negras da região da Pequena África [Zona Portuária] do Rio de Janeiro tem disputado o direito à memória, e agenciado maneiras próprias de lembrar, narrar e fazer usos da memória e do passado a partir da patrimonialização do Sítio Arqueológico do Cais do Valongo. Ressurgido em 2011 após obras estruturais do Projeto Porto Maravilha, os vestígios do Cais do Valongo, o maior porto escravista das Américas entre os séculos XVIII e XIX, e que esteve soterrado, apagado e silenciado durante anos, foi reconhecido em 2017 pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade e Sítio de Memória Sensível. Como fenômeno, a patrimonialização do Valongo mobiliza traumas, dor e violência, mas também herança, celebrações e identidades, o que nos leva a repensar as relações entre memória e patrimônio, identidade e subjetividade, passado e história. A partir da perspectiva teóricometodológica do desde a travessia, tomamos as experiências negras como lugar e o corpo como documento para pensar as disputas, conflitos e re-politização da memória em torno da memorialização e da patrimonialização do Cais do Valongo e de outras marcas e heranças negras. E assim, tanto denunciar um processo histórico de silenciamentos, esquecimentos e apagamentos das memórias negras, o que definimos necropolítica das memórias negras, isto é, a produção de uma memória sobre negro de perspectiva colonial, branca, euroferenciada, quanto pensar uma memória negra do negro, contracolonial/desde a travessia, reposicionada pelas comunidades negras que passam a produzir um lembrar de si e passam a narra a si como possibilidade de reconstrução do ser esfacelado pela colonização, a escravidão e o racismo.Palavras-chave: Cais do Valongo. Comunidades negras. Patrimônio e memória. Memórias da escravidão.