As considerações expostas neste texto têm como objetivo abordar questões surgidas durante uma prática artística interartes. A partir do entrelaçamento de uma escrita literária e de uma produção visual, atividades que começaram distintas em meu percurso, ainda que interdependentes, tenho buscado, por meio de reflexões teóricas, circundar os liames da miscigenação entre palavra e imagem. Nesta perspectiva, o foco de minha pesquisa tem sido o alargamento das jurisdições do verbal e do visual, ou o estreitar de suas fronteiras, para que um possa transitar pelos terrenos do outro, e resultarem, assim, em formas homogêneas movidas por um processo contínuo de retroalimentação. O aprofundamento da dupla experiência de olhar e ler é, portanto, o cerne da investigação desta prática artística do hibridismo, e, aqui, são perpassados pontos-chave para a compreensão de uma construção verbovisual que, sendo particular, também permite ressonâncias e confluências com as práticas e os discursos de outros artistas contemporâneos; são eles: a escritura, a intertextualidade, a apropriação, a colagem, a montagem e a narrativa. PALAVRAS-CHAVE Palavra e imagem, hibridismo, narrativa visual, escritura, colagem.

O ensaio tem como proposta a miscigenação verbovisual na construção de uma narrativa. As relações entre palavra e imagem são abordadas há séculos pela teoria. Nas práticas artísticas, mantêm presença incontornável desde as Vanguardas Históricas, marcando a arte conceitual e a contemporânea. Na literatura, ainda são consideradas experimentações e ocupam papel curiosamente secundário. Esta é uma investigação prática de um ismo fora de moda, mas persistente e – por que não? – pruriginoso.

Nestes últimos anos de criação visual e produção teórica1 centrada nas relações entre a palavra e a imagem, tenho me deparado com problematizações que interligam este tema a outras esferas que até então me pareciam fora de alcance de sua espinha dorsal. O interesse explícito em meu projeto de pesquisa de Doutorado era localizar os pontos de fusão, a partir da análise dos pontos de distanciamento entre as artes visuais e a literatura. Desde o começo da pesquisa, no entanto, tenho percebido a necessidade de retornar, irremediavelmente, para a homologia estrutural, e analisar o que disseram os adeptos da não separação entre as artes, mas, mais fortemente, debruçar-me sobre aqueles que insistiram na sua diferenciação.

The thesis presented here discusses the processual and conceptual stages of my artistic research. Based in the relationship between image and text, this investigation intends to delineate the potentialities of a visual work built with the participation of literary writing, being permeated by collage and installation-based practices, focusing on the possibilities of selection, montage and ressignification of texts. This proposal, once established as the articulation of the double experience of sight and reading, placed reflections and questions following the length of visual works development, subjected to deepening approach. The approach of dialogues between visual and literary space is given by the acknowledgement of essential artistic references for this research, considering as well the importance of the page matter, with Stéphane Mallarme's contribution (1897), following the insertion of readers as active actors involved in the process of imagetic construction, with Roland Barthes (1978), and by the use of collage as procedure in the reconstruction of meaning, with Antoine Compagnon (1996), amongst other authors propositions.