Introdução: O Sistema Único de Saúde (SUS) deve estar orientado e capacitado para a atenção integral à saúde da mulher, contemplando promoção da saúde, necessidades de saúde, controle de doenças e agravos e garantia do direito à saúde. As análises de situação de saúde são úteis para identificar desigualdades e tendências que subsidiem o planejamento, a gestão e a avaliação de políticas públicas. Objetivo: Descrever indicadores de saúde materna no município do Rio de Janeiro (MRJ) entre 1998 e 2018, sob a perspectiva de raça/cor. Método: Estudo descritivo sobre o perfil da saúde materna de residentes no MRJ entre 1998 e 2018. Com dados do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos, Sistema de Informação sobre Mortalidade e Sistema de Informação de Agravos de Notificação, analisaram-se a razão de mortalidade materna (RMM), a taxa de incidência de sífilis em gestantes, a cobertura de consultas de pré-natal e a proporção de partos cesáreos. Para a estratificação foi utilizada a variável raça/ cor, agregando as categorias pretos e pardos a fim de formar a categoria negros. A construção dos indicadores foi realizada com auxílio do software Excel, empregando dados disponíveis no TabNet Municipal - RJ, de acesso público e gratuito. Resultados: A RMM mede o risco de uma mulher morrer por causa relacionada ao ciclo gravídico-puerperal. No MRJ, a RMM apresenta uma tendência de aumento, que pode ser explicada pela melhor investigação dos óbitos de mulheres em idade fértil. No entanto, observa-se que a população negra apresenta, em média, RMM duas vezes maior que a população branca, o que evidencia o impacto das desigualdades sociais na assistência às mulheres. Em relação ao pré-natal, nota-se um avanço na cobertura ao longo do tempo. Em 1998, apenas 52% das gestantes haviam feito sete ou mais consultas; em 2008, verifica- se aumento para 66% e, em 2018, essa cobertura atingiu 81% das gestantes do MRJ. Porém, em 2018, enquanto 88% das gestantes brancas tiveram acesso a sete ou mais consultas, esse resultado é de 78% para as gestantes negras. A proporção de partos cesáreos no MRJ orbita em torno de 50% durante o período, com discreto aumento ao longo do tempo. A frequência de partos cesáreos é, em média, 50% maior na população branca do que na negra. Em relação à morbidade, há importante aumento na detecção de sífilis na gestação ao longo dos anos, de sete casos a cada 100 mil nascidos vivos em 2009 para 51 casos a cada 100 mil nascidos vivos em 2018. Ao se compararem gestantes brancas com negras, nota-se um risco duas vezes maior de as mulheres negras contraírem sífilis durante a gestação. Conclusão: Na análise de indicadores de saúde materna sob a perspectiva de raça/ cor, observa-se a influência de condições socioeconômicas nos desfechos obstétricos. Isso pode evidenciar desigualdades sociais, bem como dificuldades do sistema de saúde em oferecer acesso a todas as mulheres. Este trabalho pode fomentar discussões sobre o tema e fornecer subsídios para a proposição de políticas públicas locais.
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