A modernização da agricultura foi o paradigma que orientou a oferta agrícola desde os anos 1970. Baseou-se na tecnologia para aumentar a produtividade das áreas e culturas; contudo, gerou graves problemas sociais (por exemplo, migração rural-urbano) e degradação ambiental com a forma como foi implantada no campo. Já do lado do consumo e da distribuição dos alimentos, tem-se um sistema alimentar concentrado em torno de grandes corporações agroindustriais, com cadeias longas de distribuição que ofertam produtos (ultra)processados que têm gerado várias doenças alimentares não transmissíveis (Dants) entre os consumidores e que não se preocupam com a sustentabilidade ambiental de suas práticas, como auxiliar a cumprir os objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) (Ploeg, 2008;Santos, 2008;Siliprandi, 2015).Diante desse quadro, questionável por vários ângulos, surgem alternativas de produção-distribuição-consumo que se mostram mais sustentáveis frente aos 1. Este capítulo é parte dos resultados de atividades de pesquisas previstas no projeto Mercados Alimentares Digitais no Brasil: Inovações, Dinâmicas e Limites das Experiências de Comercialização Online de Alimentos da Agricultura Familiar no Contexto da Pandemia da Covid-19 financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), através da Chamada n o 04/2021 (Processo n o 303942/2021-5). 2. Doutor em desenvolvimento rural; professor titular na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR); professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR)/UTFPR; líder do grupo de estudos e pesquisas em desenvolvimento, alimentação, mercados e políticas públicas (GePPADeM); e membro do grupo de estudos e pesquisas em agricultura, alimentação e desenvolvimento (Gepad) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Esta pesquisa aborda o empoderamento das mulheres do campo do Paraná que participam de cadeias curtas de comercialização de alimentos. O problema de pesquisa questiona: as mulheres da agricultura familiar se reconhecem como agentes econômicas produtivas? O objetivo consiste em analisar as percepções das mulheres ligadas a Associação dos Produtores Feirantes de Guarapuava (APROFEG) sobre o seu empoderamento socioeconômico e psicossocial e o papel das políticas públicas locais nestes processos sociais. Com base na crítica à invisibilidade do trabalho doméstico e de cuidados desempenhado historicamente pelas mulheres, a pesquisa busca entender como as mulheres do campo se percebem dentro do sistema familiar e de produção onde estão inseridas e se conseguem reconhecer seu trabalho como produtivo e não somente “ajuda” ao esposo/família. A metodologia foi de caráter quali-quantitativo, feita a partir da aplicação de 9 (nove) entrevistas estruturadas e 3 (três) semiestruturadas sobre três dimensões norteadoras: socioeconômica, qualidade de vida e dignidade, todas realizadas no Município de Guarapuava/PR, em 2019. Também foram entrevistados o Secretário Municipal de Agricultura e a Nutricionista da secretaria. Os resultados demonstram que as mulheres deste grupo se reconhecem como agentes econômicas produtivas quando se identificam como “agricultoras” e que têm certo grau de empoderamento. A pesquisa identificou que as políticas públicas do município, alinhadas a mudanças institucionais, podem ser mecanismos de emancipação destas mulheres.
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