Pesquisamos as culturas populares em interface com a educação escolar para compreender as relações de poder instituída nas práticas educativas que impedem uma práxis voltada ao reconhecimento da diversidade étnico-cultural. Delimitamos experiências exitosas em dois municípios cuja constituição populacional resulta de conflitantes processos de colonização em Mato Grosso. Pautados em pesquisas anteriores nas quais identificamos as outras dinâmicas de poder entre gerações que alimentam a vida coletiva com uma educação marcada no corpo que se sabe, que reza, dança, come e brinca nas festas de santo. Concluímos que o professor não consegue transpor as barreiras do sistema escolar diante de uma realidade inacabada, complexa e dialética, sem uma formação pautada na compreensão da realidade social diversificada e do aprender coletivo.
Neste artigo, tecemos considerações sobre uma manifestação da cultura e identidade do Povo Bororo a partir do diálogo com o contexto sociocultural e histórico de Meruri, em Mato Grosso. O Jure como uma prática social se expressa como educação do corpo que se materializa na dança e no brincar possibilitando a compreensão de diferentes sentidos e significados em diálogo com a cosmologia complexa deste Povo que há 300 anos se mantém com a língua e os rituais a sua complexa estrutura social e formas de constituir suas identidades individuais e coletivas. A dança se constitui numa prática polissêmica cuja expressão revela quem são os corpos que dela participam e conforme os contextos essa transcende sua especificidade ritualística ou lúdica para promover interações e processos de educações dos corpos numa perspectiva intercultural.
<p>Neste artigo, fruto de uma pesquisa de doutorado em andamento que visa compreender as trajetórias das professoras da etnia Bororo na educação escolar indígena, trazemos as primeiras aproximações da temática a partir do diálogo com mulheres e liderança a fim de pensar as relações entre os diferentes papeis da mulher professora e mulher bororo considerando sua estrutura social matrilinear. Apresentaremos neste ensaio, dados preliminares a partir de três fontes de dados distintas, que nos permitem compreender o lugar da mulher Boe a partir da cosmovisão Bororo e nisso analisar sentidos e significados atribuídos às mulheres na sociedade Bororo, considerando toda a especificidade da organização social e cultural do povo cuja estrutura social é centrada na mulher. A educação tradicional articula os mundos que constituem a cosmologia Bororo, na qual se vinculam as dimensões material e imaterial num processo binário de estruturação e organização social, a fim de educar o corpo-ser <em>aredu</em> (mulher) e o corpo-ser <em>imedu</em> (homem). Na concepção Bororo de ver o mundo, há sempre duas metades, dois lados, que não são antagônicos, mas complementares e co-dependentes, no sentido de que um clã, uma metade exogâmica, não pode sobreviver sem a outra, pois uma dá visibilidade à outra, permitindo o reconhecimento de diferença e pertencimento de cada pessoa na sociedade a partir do seu grupo social clânico matrilinear.</p><p> </p>
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