A essência dos problemas que acometem a mobilidade cotidiana nas cidades brasileiras remete à combinação de condicionantes históricas, como a manutenção de pactos de poder que aglutinam setores conservadores da sociedade. Nesses pactos convergem proprietários fundiários urbanos, promotores imobiliários que a eles se coligam e o próprio empresariado de transporte público. Esses, como lhes convêm, mantêm dissociados a eficiência econômica da eficácia dos serviços de transportes, mantendo seu equilíbrio contábil a despeito da qualidade do serviço. Nesse contexto, urgem novas infraestruturas, intermodalidades com novos modais de transporte urbano, políticas mais expressivas de subsídios, rigoroso planejamento do uso do solo, bem como uma atuação mais incisiva do Estado enquanto regulador, planejador e fiscalizador.
O artigo objetiva analisar os padrões de difusão espacial da Covid-19 no território brasileiro, considerando a organização dos sistemas de transportes, a rede urbana e as interações espaciais. Destacam-se também algumas estratégias e ações do Estado necessárias para combater a epidemia e influir no desenvolvimento econômico. Os sistemas de transportes e seus fluxos são vetores da difusão do novo coronavírus no território e esse processo permeia distintos momentos das interações espaciais no contexto das hierarquias das redes urbanas. O avanço da Covid-19, no caso brasileiro, tem assumido níveis elevados, dada a precariedade dos equipamentos de reprodução social, principalmente nos últimos anos. O aprofundamento do neoliberalismo no Brasil soma-se a uma política errática de combate à pandemia, contrariando a necessidade premente de socialização dos investimentos no país.
As políticas de mobilidade urbana na Região Metropolitana de Florianópolis (RMF) têm sido afetadas por atributos inerentes à sua formação sócio-espacial. A estrutura política e as instituições de planejamento e gestão conformam uma superestrutura derivada de relações sociais conservadoras, sedimentadas no Estado e na sociedade civil, cujo resultado territorial se reflete na materialização de paradigmas de planejamento já superados, aprofundando as contradições entre território e mobilidade. Tais propostas tentam emular intervenções que obtiveram sucesso em outros contextos e temporalidades sem, no entanto, resolver contradições singulares do sistema de transporte público florianopolitano. As instituições de planejamento omitem-se em tocar nas estruturas de poder formadas entorno dos transportes públicos e do setor imobiliário. Assim, intervenções baseadas na concepção de um espaço conectivo ignoram que os transportes são apenas parte de uma política mais ampla de mobilidade. Desconsideram também a necessidade de uma política de mescla de usos do solo, de subsídios aos transportes públicos, de integração de distintas tecnologias de transporte e integração interinstitucional entre os organismos de planejamento. Nesse contexto, a vocação desse subespaço litorâneo catarinense para as mobilidades não-motorizadas, para os transportes marítimos e ferroviário leve-derivada da urbanização portuguesa, compacta e encravada em promontórios marítimos-é surpreendentemente negligenciada. The reproduction of old paradigms in public transportation and mobility policies: analysis applied to Florianopolis metropolitan region
O presente trabalho tem por objetivo analisar as relações existentes entre a distribuição espaço-temporal dos casos de COVID-19, as mobilidades inter-regionais e pendulares e as atividades produtivas no estado do Rio Grande do Sul. A metodologia teve por base a análise conjunta de dados dos números de casos de infecção, do tempo de confirmação do primeiro caso por localidade, das infraestruturas e serviços de transporte e das atividades econômicas no território sul-rio-grandense. A pesquisa demonstrou que essas relações são verossímeis, exibindo, portanto, a complexidade do elo existente entre as interações espaciais e a difusão espacial do SARS-CoV-2, o vírus causador da doença. O trabalho reforça a importância dos estudos interdisciplinares, em especial na Geografia da Saúde, ao levantar questões sobre os transportes e as interações espaciais, as atividades econômicas nas diferentes regiões do estado e as características físicas que envolvem a temperatura interna dos ambientes de produção e circulação. O estudo também põe à mostra a fragilidade do Estado neoliberal na vigilância, gestão e planejamento estratégico dos serviços, infraestruturas de transporte e atividades produtivas, em meio aos saltos multiescalares dos patógenos de alto contágio na rede urbana. Ao mesmo tempo, demonstra que a difusão espacial do SARS-CoV-2 e a localização dos casos de COVID-19 tem obedecido relativamente aos padrões dos volumes e frequências de deslocamentos conhecidamente regionais em eixos rodoviários, bem como características de certas atividades produtivas e de reprodução social.
Para a construção de uma nova abordagem acerca das interações espaciais, que supere a visão clássica a ela atribuída de simples deslocamento, é necessário relacionar a natureza transformadora e dialética das interações ao espaço geográfico. O contato entre elementos espaciais diferentes, combinados através do transporte, possibilita o surgimento de uma característica nova e superior às formações materiais que interagem, reforçando seu caráter dialético. No capitalismo, estas interações se dão segundo interesses hegemônicos de valorização, conformando desigualdades entre setores econômicos, ramos de atividades e espaços, distorcendo as próprias interações que os alimentam. No espaço da cidade, tais processos se chocam e se combinam, manifestando um conflito de frações de capital incumbidas de estruturar este espaço, valorizando-se retroativamente em alguns momentos e manifestando antagonismos em outros. A relação entre o transporte e a estrutura da cidade é bastante apropriada para dar conteúdo a estas discussões. Palavras-chave: interações espaciais; transporte público; valor-trabalho; estruturação da cidade. Abstract: For the building of a new approach about spatial interactions that overcomes the classical view of simple displacement, it is necessary to relate the transforming and dialectic nature of interactions to geographic space. The contact between different spatial elements through transportation allows the emergence of a new and superior feature of material conformations that reinforce the dialectical character. In capitalism, these interactions occur according to hegemonic interests of recovery, shaping inequalities between economic sectors, branches of activities, and spaces, that distort the interactions that promote them. In urban space, such processes collide and combine, showing a conflict fractions of capital responsible for structuring the space of the city. The relationship between transportation and the structure of the city is quite appropriate to give substance to these discussions. Keywords: spatial interactions; public transportation; labor value; city structure.
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