Ciclones de escala sinótica embora sejam sistemas comuns na costa sul-sudeste do Brasil, a ocorrência desses eventos com impactos severos para a população é mais rara. Entretanto, durante o inverno de 2023, num intervalo de praticamente um mês, dois ciclones foram responsáveis por cerca de 17 óbitos e vários prejuízos no sul do Brasil. Esses dois episódios trazem o questionamento se eles tiveram alguma característica distinta em relação ao padrão climatológico. Portanto, nesse estudo serão avaliados as características básicas e o processo de gênese desses dois ciclones, bem como os ventos e precipitação por eles produzidos. Para tanto, dados de diferentes fontes são utilizados. O ciclone de junho se formou na costa do Estado do Rio de Janeiro e, inicialmente, teve trajetória anômala para sudoeste, afetando os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A gênese desse sistema esteve associada com a influência de um cavado em médios e altos níveis da atmosfera e a processos termodinâmicos, o que contribuiu para a gênese na categoria de ciclone subtropical. O deslocamento anômalo para sudoeste foi por influência de um sistema de alta pressão que dificultou sua propagação para leste/sudeste. Já o ciclone de julho se formou sobre o continente entre o Paraguai, Argentina e o Estado do Rio Grande do Sul e durante todo o seu ciclo de vida teve características de sistema extratropical. Portanto, causou precipitação e ventos fortes sobre o continente até estar totalmente sobre o oceano. Nesse evento, o padrão anômalo é o do local de gênese, que seria esperada mais próxima da região costeira. O suprimento de ar quente e úmido proveniente dos trópicos parece ter sido um fator importante para a ciclogênese continental.