Análise do relatório de guidance em empresas investigadas pela Polícia Federal: exame sob a perspectiva do gerenciamento de impressões

Abstract

Analisamos se as investigações de fraudes feitas pela Polícia Federal em três operações recentes geraram algum efeito na divulgação de informações prospectivas das empresas denunciadas. As operações Carne Fraca, Lava Jato e Zelotes poderiam alterar o gerenciamento de impressões nas informações prospectivas reportadas pelas empresas. Ponderamos o conteúdo dos chamados relatórios de guidance das empresas investigadas nessas operações entre 2010 a 2017, incluindo informações financeiras, operacionais e de investimentos. O período de análise coincide com o início da divulgação do relatório anual de guidance em 2010 pelas empresas listadas na Brasil Bolsa Balcão (B3). Os resultados mostram que o padrão de divulgação (tom mais positivo ou mais negativo) varia entre as empresas investigadas, indo desde uma rápida retomada do otimismo, até a descontinuidade do relatório.

Influência Do Ceticismo Profissional No Gerenciamento De Impressão Da Divulgação Da Informação Contábil

“…Neste âmbito, diversos estudos têm sido elaborados com o intuito de analisar a qualidade da informação contábil nas demonstrações divulgadas para verificar se atendem ou não aos requisitos exigidos de relevância, materialidade e veracidade (COELHO; NIYAMA; RODRIGUES, 2011;PONTE;OLIVEIRA, 2004). Evidências encontradas têm sugerido que empresas têm utilizado as divulgações contábeis como forma de influenciar o julgamento do usuário, contrariando o requisito de neutralidade exigido na informação contábil (JONES, 2011;CHO;MICHELON;PATTEN, 2012;BARKEMEYER et al, 2014;YANG;LIU, 2018).…”

“…Nessa lógica, para persuadir o usuário da informação, as empresas têm utilizado técnicas de seletividade, distorção de medição e aprimoramento de divulgação para gerenciar as informações contidas nos relatórios contábeis e de administração, relatórios de sustentabilidade, cartas aos acionistas e perfis de rede social (CHO; MICHELON;PATTEN, 2012;BARKEMEYER et al, 2014;VARGAS;ALMEIDA;MARIA JÚNIOR, 2014;YANG;LIU, 2018). Existem evidências de que essas técnicas podem afetar o julgamento e a tomada de decisão dos indivíduos a partir das informações divulgadas (PENNINGTON;TUTTLE, 2009).…”

“…Conforme o exposto, no ambiente organizacional, as empresas podem optar por gerenciar a impressão das partes interessadas para legitimar sua imagem, ou seja, apresentar as informações de uma maneira que comunique uma realidade positiva (GODFREY; MATHER; RAMSAY, 2003;ARANTES;GUSMÃO;COSTA, 2019). Nesse cenário, as partes interessadas podem ser prejudicadas, caso tomem decisões com base em impressões equivocadas do desempenho de uma empresa.…”

“…Diante disto, nota-se a relação entre o ceticismo profissional e o gerenciamento de impressão, pois pessoas menos céticas tendem a aceitar uma informação sem questioná-la, o que pode prejudicar a interpretação da divulgação das informações contábeis, quando estas forem elaboradas com técnicas de gerenciamento de impressão (JONES, 2011;CHO;MICHELON;PATTEN, 2012;BARKEMEYER et al, 2014;AMINUDIN;SURYANDARI, 2016;YANG;LIU, 2018).…”

“…Assim, no âmbito corporativo, pode-se definir o gerenciamento de impressão como a forma com que as empresas divulgam sua informação de modo a apresentá-la de uma maneira que influencie o leitor ou distorça o real sentido da mensagem (GODFREY; MATHER; RAMSAY, 2003; VARGAS; ALMEIDA; MARIA JÚNIOR, 2014). Pois as principais características que as companhias visam proteger ou aprimorar por meio dos relatórios são: a reputação, que representa o status da companhia; a imagem, que denota os aspectos individuais; a visão do público e a legalidade ou adequação às normas (MERKL-DAVIES; ARANTES;GUSMÃO;COSTA, 2019).…”