Resumo: Os poucos estudos que abordam o tema de saúde e nutrição em indígenas da macrorregião Nordeste do Brasil sinalizaram situações diferenciadas em alguns aspectos, quando comparados principalmente à realidade de indígenas do Norte e Centro-oeste. Este trabalho objetivou estimar a magnitude das prevalências e risco de sobrepeso e excesso de peso em crianças menores de dez anos da etnia Xukuru do Ororubá, Estado de Pernambuco, e avaliar os fatores socioeconômicos e demográficos potencialmente associados a estes agravos. Estudo transversal, no qual realizou-se uma análise da associação entre as variáveis de desfecho, peso adequado, excesso de peso (sobrepeso e obesidade) e risco de sobrepeso, de acordo com os índices e pontos de corte da Organização Mundial da Saúde para crianças e as variáveis explicativas, utilizando-se regressão logística multinomial. A prevalência de excesso de peso foi de 7,7% e de risco de sobrepeso de 24,2%. As chances de risco de sobrepeso e de excesso de peso são maiores em crianças < 2 anos, e filhos de mães obesas apresentam maior chance de excesso de peso. A prevalência de risco de sobrepeso foi 97% maior quando comparada com os domicílios sem renda fixa. Os achados sugerem que os Xukuru estão atravessando um acelerado processo de transição nutricional, com uma situação paradoxal a que outros povos indígenas no Brasil estão expostos.