Barreiras à implementação das Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal: uma análise prototípica das representações sociais de atores estratégicos

Abstract

Resumo Este estudo tem por objetivo analisar as representações sociais de atores estratégicos envolvidos na assistência ou gestão em saúde, sobre as questões que envolvem a mulher, o parto e o nascimento, buscando identificar e compreender barreiras à implementação das Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal. Realizou-se estudo qualitativo descritivo, de corte transversal, baseado num teste de associação livre de palavras, com 12 atores estratégicos. As palavras - Parto; Enfermeira obstétrica; Nascimento; Médico obstetra; Mãe; Complicação; Mulher - foram selecionadas a partir de uma análise textual das contribuições da sociedade na Consulta Pública das Diretrizes, com o software IRaMuTeQ. A análise do resultado do teste de associação de palavras foi realizada na abordagem estrutural das Representações Sociais, com os softwares OpenEVOC e IRaMuTeQ. Foram identificadas como potenciais barreiras à implementação as representações sobre parto associado a dor, o médico obstetra como obstrutor e os estereótipos que marcam o papel da mulher e da mãe na sociedade. Compreender essas representações é importante para evidenciar as convenções que subjazem nas atitudes e práticas de profissionais e usuárias, possibilitando a definição de estratégias específicas para cada grupo.

Parto humanizado: uma revisão integrativa

“…Uma das finalidades da atuação da enfermagem no centro obstétrico é humanizar o cuidado, proporcionar um ambiente calmo com isso reduzir a ansiedade e o medo nas mulheres em trabalho de parto, além de ofertar técnicas para o alívio da dor, pois o que motiva várias mulheres a sentirem medo do parto normal, são os relatos do uso de intervenções que muitas vezes são desnecessárias, como: episiotomia, acesso venoso, jejum muito prolongado (se o trabalho de parto for longo a mulher sente-se muito fraca), a manobra de Kristeller também assusta muito as mulheres em geral, e o uso de medicação que induzem o trabalho de parto podendo causar exaustão, dentre outras (Vidal et al, 2021). Somando o medo de tudo que foi citado, a cesariana aparece como acalento, esse cenário pode continuar influenciando as mulheres na escolha por parto cesariano (Andrade et al, 2018).…”

“…A assistência humanizada prestada pela equipe de enfermagem encontra dificuldades, pois as ações da equipe de enfermagem são, muitas vezes, voltadas apenas para o procedimento em si e não para a mulher, limitando-se apenas à prescrição médica para prestar assistência à parturiente, deixando de lado à implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) (Fraga et al, 2018) (Vidal et al, 2021). Além disso, no dia-a-dia do enfermeiro, existe o excesso de atividades burocráticas voltadas para o controle de material, gerenciamento do pessoal de enfermagem, registros e relatórios escritos de forma não sistematizada, caracterizando a execução de tarefas rotineiras, e revelando, assim, a falta de disponibilidade com assistência (Domingues et al, 2015) (Nascimento et al, 2018).…”

“…Como forma de organizar o cuidado e gerir o tempo, o estudo propõe implementar a sistematização da assistência de enfermagem (SAE) (Ribeiro, & Padoveze, 2018). Desta forma, o enfermeiro deixará de se basear apenas na prescrição médica para realizar seus cuidados e começará a utilizar seu senso crítico para o planejamento da assistência evidenciando sua autonomia e favorecendo o reconhecimento profissional pelos membros da equipe (Fraga et al, 2018) (Vidal et al, 2021).…”

“…A (OMS), bem como o Ministério da Saúde (MS) determinam algumas diretrizes para o parto normal, que deve ser acompanhada por um profissional médico que conhece o planejamento da gestante e de sua família, além do seu histórico de saúde, o bem-estar físico e mental da mulher, que é essencial antes, durante e depois de dar à luz (Vidal, et al, 2021).…”

“…Outros procedimentos comuns que são ineficazes e até mesmo prejudiciais são: a tricotomia total na região pubiana, a lavagem intestinal, infusões intravenosas, uso da posição ginecológica (deitada com as pernas levantadas em apoios), distensão de períneo e até mesmo a lavagem do útero após o parto (Vidal, et al, 2021). Nesse cenário, o parto normal se distancia do que deveria ser a forma mais natural de parir, com uso de remédios e técnicas de indução para apressar o parto, o tempo da mãe com o bebê acaba não sendo respeitado (Silva, et al, 2016).…”