caçador xamã

Abstract

O objetivo deste artigo é descrever os conhecimentos a que os caçadores do povo Gavião, falantes Jê que vivem na Amazônia maranhense, recorrem na tentativa de controlar as capacidades agentivas dos animais ao torná-los comida ou adorno. Quando se encontram em atividades cinegéticas, caçadores e animais estão disputando condições de produção e reprodução, e a relação malsucedida entre eles desencadeia um processo de adoecimento e morte do caçador, de sua esposa ou filho. Argumento que os caçadores desenvolveram um sistema de etnoclassificação ambiental que distingue os animais frente aos domínios cósmicos e habitats que ocupam, quanto a seus aspectos morfológicos, a dimensão estética de seus corpos e a completa interdição aos humanos. Se a dualidade Jê entre vivos e mortos pode ser resolvida pela ação dos xamãs, a dualidade entre humano e animal pode ser pensada pela intermediação dos caçadores que, como os xamãs, agem como intermediários entre dois mundos diferentes, encontrando na classificação dos animais e ambientes uma dinâmica entre um mundo pensado e um mundo vivido.

Waste and disposal in Indigenous Lands: the experience of the Gavião Pyhcop Catiji with solid waste in the Amazon (Brazil)

“…The hunter Gavião does not stop killing armadillos when the game is abundant because he is concerned about the environmental balance. His concern is tun jõh pa'hêeh, the "chief of the armadillos," a type of double (Cesarino, 2010), an image of a body or object that manifests itself outwardly in the absence of the former, appearing to him in the forest and as in an act of revenge, making him "enpanema," i.e., unable to hunt other hunts, make him sick and even lead him to death (Melo, 2019).…”

Conhecimento indígena, sistema de manejo e mudanças ambientais na região de transição Amazônia-Cerrado

“…A etnografia com o povo Gavião nos indicou que existem um conjunto de conhecimentos que tornam possíveis manter o modo de vida e a própria dinâmica cultural do povo. São conhecimentos relativos a interações com outros indígenas, com os não indígenas, espíritos, com animais, plantas e outras manifestações presentes na natureza (Melo, 2019).…”

“…No caso das taxonomias usadas pelos Gavião, os três domínios cósmicos (pji'cỹm, cu'cỹm, cujcwaa'cỹm), decorrentes da especiação sociológica criada pelos demiurgos quando deixaram a terra, vinculam-se à classificação do mundo animal em três grandes categorias que podem ser glosadas como: pryyhre (animais selvagens, caça), tep (peixes e seres aquáticos) e hỳc (aves) (Melo, 2019). No caso dos vegetais, eles recebem o nome genérico de amjehrot (planta).…”