ResumoO artigo analisa a representação política local, focando as percepções e práticas cotidianas dos vereadores. Em particular, analisam-se suas escolhas entre estratégias de representação clientelistas e universalistas. Utilizam-se dados originais de entrevistas abertas semiestruturadas com amostra não representativa de 112 vereadores de 12 municípios de Minas Gerais. Por meio de análise qualitativa, classificam-se os vereadores em três tipos, de acordo com sua principal estratégia de representação, a saber: "legislador", que se dedica mais às funções formais da vereança; "captador", que prioriza o atendimento de pedidos coletivos dos eleitores; "assistencialista", que prioriza o atendimento de pedidos particulares. Com base na literatura teórica sobre clientelismo, oferecem-se hipóteses explicativas das estratégias de representação dos vereadores, que são testadas estatisticamente utilizando-se um modelo probit multinomial. Os resultados sugerem que essas estratégias são qualitativamente distintas e que a probabilidade de ocorrência do tipo assistencialista é maior em municípios pequenos, crescente no acirramento da competição política e decrescente na volatilidade eleitoral. Também há evidência fraca de que essa probabilidade é decrescente na escolaridade do vereador e crescente no seu tempo Não obstante a literatura colecionar excelentes ensaios e análises sobre a ocorrência sistêmica do clientelismo, incluindo interpretações sobre sua gênese e dinâmica ao longo da nossa história (Queiroz 1976;Vianna 1987;Graham 1997;Leal 1997;Nunes 1997), tais estudos pouco ajudam na elucidação dos microfundamentos do fenômeno, particularmente na identificação das razões pelas quais políticos adotam práticas de representação clientelistas em vez de outras, mais universalistas. Investigações recentes sobre o clientelismo no nível local, por sua vez, abordam o cotidiano da representação por meio ou de perspectivas hermenêuticas -avaliando, em particular, as motivações subjetivas dos atores (Palmeira & Goldman 1996;Kushnir 2000) -ou da descrição de como a representação é exercida em uma ou poucas localidades (Joffre Neto 2003;Lopez 2004). Não está entre os objetivos desses estudos, entretanto, a explicação sistemática do fenômeno 2 .Este artigo tem dois objetivos. Em primeiro lugar, identificar e compreender como a representação política é exercida no nível local, no Brasil, atentando especialmente para práticas clientelistas. Em segundo, testar algumas explicações da ocorrência desse padrão de representação. Para tanto, focamos a análise nos vereadores, como eles percebem e exercem a representação.O foco na política local e, mais especificamente, nos vereadores, justifica-se pelas seguintes razões. Desde a promulgação da Constituição de 1988, os