Cuidados primários em saúde na atenção à população em situação de rua

Abstract

Introdução: o fenômeno situação de rua constitui-se um desafio para sua compreensão, dimensionamento, diagnósticos diversos e para a definição de estratégias para enfrentar as condições de vulnerabilidade, entre elas as de saúde. Objetivo: descrever as ações desenvolvidas pelos profissionais de saúde e as dificuldades vivenciadas no atendimento à população em situação de rua. Métodos: pesquisa qualitativa, a partir de entrevistas com profissionais de saúde de uma Unidade Básica de Saúde de Belo Horizonte-MG, referência para atendimento a essa população. O conteúdo dos depoimentos foi analisado pelo referencial de Bardin. Resultados: os profissionais identificam ações realizadas, a partir do acolhimento sistematizado com vistas à criação de vínculos e abordagem dos principais problemas de saúde. Realizam ações preventivas necessárias e encaminham ou acionam outros serviços, como albergues ou centros pop. Sentem-se satisfeitos e gratificados, apesar de perceberem a necessidade de maior articulação com outros pontos da rede assistencial diante de atendimentos mais complexos ou específicos. Também enfrentam dificuldades para a redução de danos em várias dimensões como vacinação, saúde bucal e geral, saúde mental e prevenção e tratamento de doenças crônicas e infectocontagiosas. Emergiram duas categorias: Identificando ações desenvolvidas pelos profissionais da Atenção Primária e Enfrentando dificuldades e desafios no atendimento a essa população. Conclusões: é preciso ultrapassar preconceitos e conhecer a situação de rua para sua implicação nos cuidados prestados na Atenção Primária, apesar dos dificultadores. Capacitação dos profissionais e planejamento multi e interdisciplinar, em rede, concorrem para qualidade na captação dos indivíduos e sua inserção efetiva nos serviços de saúde.

Atenção Primária À Saúde: Promoção, Prevenção, Diagnóstico E Implementação De Cuidados

“…Para Campos (2018) os serviços de saúde não compreendem as reais necessidades da PSR para planejar estratégias efetivas a fim de aliviar o sofrimento e ofertar o cuidado global. Isso se dá pela invisibilidade desse público quando excluídos dos censos demográficos nacionais e de outros registros importantes no levantamento do perfil para a elaboração de Políticas públicas a partir da situação municipal identificada, a qual dificulta o monitoramento e a tomada de decisão para melhoria no atendimento (ENGSTROM, et al, 2019;LAURA et al, 2021).…”

“…Conforme afirmaHino et al (2018), nesta Portaria estão definidas o modo de funcionamento e organização de Consultório na Rua, as quais devem ser compostas por equipes multiprofissionais e atender a todas as diferentes demandas da PSR, o que inclui atividades de busca ativa, avaliação em saúde física, mental e cuidado integral aos usuários de substâncias psicoativas (CHAVES JUNIOR; AGUIAR, 2020).Nesse sentido, Chaves, Junior e Aguiar(2020) destacam que as ações das eCR não estão direcionadas exclusivamente às demandas de saúde-doença dessa população, mas também à ampliação do acesso aos serviços de saúde e assistência social, como por exemplo a solicitação do cartão do SUS. Nessa perspectiva, paraHamada et al, 2018 o acesso da população a atenção integral à saúde deve ocorrer não apenas para o atendimento em situações de emergência, mas também deve-se buscar sua reinserção social Laura et al (2021). destaca que a habilidade de escuta qualificada e o acolhimento por parte do profissional são as principais estratégias para a construção de vínculos e efetivação do cuidado.…”

Percepção dos profissionais de saúde sobre o atendimento à População em Situação de Rua no município de Araguari (MG)

“…27 Nesse sentido, no que tange à assistência da PSR, os profissionais de saúde das UBS e UBSF tornam-se importantes atores que impulsionam a funcionalidade das ações da atenção primária voltadas para esse público, ao promoverem ações de proteção à saúde, tratamento de patologias e referenciamento para serviços especializados. 28,29 Essa relação, entretanto, do ponto de vista da PSR, é, muitas vezes, permeada por preconceitos, medo, predominância do saber técnico e imposição de valores, o que demonstra frágil articulação com esses usuários e pouca escuta de suas necessidades. 30,31 Contudo, essa mediação pode ser aprimorada a partir da intervenção nos conflitos existentes, e apreender a realidade de ambos os lados pode ser útil para a consolidação desse propósito.…”

Universalização do acesso à saúde: um desafio para a população em situação de rua na Atenção Primária à Saúde

“…Ao mesmo passo que promovem um cuidado com posturas preconceituosas contra a PSR, muitas vezes de forma velada e internalizada, verbal ou não verbal, reconhecem que a discriminação é uma barreira para o tratamento de saúde dessas pessoas. Laura et al (2021) ressaltam que o perfil inadequado e o discurso moral que norteiam a prática, dificultam o trabalho com a PSR. Os participantes A2, A8, A12, A13 relatam sobre episódios de negativa de atendimento, causada por preconceitos e discriminações dos próprios profissionais de saúde:…”

“…No estudo realizado por Laura et al (2021), que teve como objetivo conhecer as dificuldades vivenciadas no atendimento à população em situação de rua, pelos profissionais da APS, foram elencados como principais desafios, a localização dos indivíduos em situação de rua e a pressão pelo atendimento.…”