Esteatose hepática aguda da gravidez: relato de caso e revisão de literatura

Abstract

A esteatose hepática aguda da gravidez (EHAG) é uma complicação obstétrica rara e grave, que ocorre durante o terceiro trimestre de gestação. O objetivo deste estudo é o relato de caso de EHAG em paciente internada em hospital terciário. Gestante, 36 anos, na 37ª semana de gravidez previamente hígida até quatro dias antes da admissão hospitalar. Iniciou quadro de dor abdominal em epigástrio e hipocôndrio direito, icterícia progressiva, desidratação, febre e calafrios. Evoluiu com piora dos sintomas, hematêmese, hipotensão e hipoglicemia. A função hepática apresentava alterações. O coagulograma revelava tempo de protrombina e de tromboplastina parcial alargados. Os marcadores virais para hepatites A, B e C foram negativos. No pós-operatório imediato da Cesárea, a paciente evoluiu com distúrbio da coagulação, episódios de hipoglicemia, piora da icterícia e encefalopatia hepática, caracterizando o diagnóstico de insuficiência hepática aguda (IHA). Após quatro dias de tratamento da encefalopatia hepática houve melhora do sensório até apresentar-se consciente, orientada, sem flapping, apenas com tratamento conservador e não preencheu os critérios do King’s Collegue de indicação para transplante hepático. No 15o dia de internação tanto a paciente e filho encontravam-se bem. Com o conhecimento e diagnóstico de EHAG, no reconhecimento precoce de casos mais leves, incluindo interrupção precoce da gravidez por cesariana e grandes volume de plasma fresco congelado e albumina, alternadamente, o prognóstico de EHAG pode melhorar.

Esteatose hepática aguda da gestação: relato de caso

“…A gestante pode apresentar sintomas constitucionais como fadiga e anorexia (LEE; BRADY, 2009;AHMED et al, 2013;CHOLONGITAS;BURROUGHS, 2008;GONÇALVES, 2011). Hepatites virais agudas na gravidez cursam como uma doença sistêmica com febre, naúsea, vômito, icterícia, fadiga e elevação mais pronunciada das transaminases (>500U/L) (PINHEIRO et al, 2015;SINGH;MEENA, 2015;GONÇALVES, 2011). No caso descrito, foram descartados por sorologias negativas, apresentação clínica e exames de imagem, as hepatites A, B e C. Hepatite E, apesar de também constar como diagnóstico diferencial para EHAG (POLLO-FLORES et al, 2015), não foi testada devido a dificuldade técnica no momento da internação da paciente.…”

“…Em comum, ocorrem predominantemente no terceiro trimestre da gestação e suas manifestações iniciais são inespecíficas. Ambas podem cursar com elevação das transaminases, insuficiência renal, trombocitopenia e coagulação intravascular disseminada (CIVD) (PINHEIRO et al, 2015;LEE;BRADY, 2009;CHOLONGITAS;BURROUGHS, 2008;GAMI et al, 2013). Cerca de 50% das gestantes acometidas pela EHAG, apresentam hipertensão e proteinúria (LEE; BRADY, 2009;IBDAH, 2006;AHMED, 2006).…”

“…A esteatose hepática aguda da gravidez (EHAG) é uma complicação obstétrica rara e grave, descrita pela primeira vez por Sheehan em 1940(PINHEIRO et al, 2015IBDAH, 2006). Sua incidência varia de um caso para 10.000 a 15.000 partos (LEE; BRADY, 2009) e afeta mulheres de todas as idades e raças, sem características epidemiológicas distintas relacionadas a áreas geográficas ou grupos étnicos.…”

“…Entretanto, existem casos descritos no fim do segundo trimestre e no pós-parto imediato (MODIR; KUCZKOWSKEI; MOELLER-BERTRAN, 2008;GONÇALVES, 2011). Mais frequente em primíparas, está associada à pré-eclâmpsia (30-60% dos casos), ao sexo fetal masculino (3:1), à gravidez múltipla (9-25%) e à obesidade materna (PINHEIRO et al, 2015;IBDAH, 2006;AHMED et al, 2013;MODIR;KUCZKOWSKEI;MOELLER-BERTRAN, 2008).…”

“…Sua patogênese ainda é desconhecida e suas manifestações clínicas iniciais são inespecíficas, incluindo náuseas e vômitos em 70% dos casos, epigastralgia em quase 80% das vezes, além de cefaléia, fadiga e dor em hipocôndrio direito (PINHEIRO et al, 2015;IBDAH, 2006;CHOLONGITAS;BURROUGHS, 2008;GAMI et al, 2013). A icterícia aparece após a primeira semana, o que dificulta o diagnóstico precoce (PINHEIRO et al, 2015). Casos mais severos da EHAG cursam com insuficiência renal aguda, encefalopatia, pancreatite, hipoglicemia e coagulopatia (AHMED et al, 2013;PEROSA et al;2001).…”