RESUMO Com a atual configuração curricular dos cursos de Medicina, desde o primeiro ano do curso o estudante entra em contato com os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) e com a população usuária do sistema, o que costuma ser chamado de "contato precoce" com pacientes. Tal inserção precoce gera emoções diversas nos estudantes, positivas e negativas. Entretanto, poucos são os estudos brasileiros que abordam esta questão. Espera-se com este estudo descrever os sentimentos vivenciados por estudantes de Medicina de uma instituição privada no interior de São Paulo em três momentos do curso (primeiro, terceiro e quinto anos), quando se inicia uma nova modalidade de atividades junto aos usuários do SUS, respectivamente as atividades de interação com a comunidade na atenção básica, no ambulatório médico e no internato. Foram coletados dados de identificação demográfica e opções de sentimentos vivenciados no início e no fim do ano letivo, segundo gradação em baixa, média e alta intensidade. Os sentimentos investigados foram aborrecimento, alegria, benevolência, desilusão, desânimo, despreparo, empatia, esperança, impotência, motivação, perplexidade, raiva, realização, satisfação e tristeza. Participaram do estudo 120 estudantes. Os resultados apontaram ampla margem de sentimentos de natureza positiva, sendo alegria, motivação e satisfação os mais presentes nos três anos investigados. Desânimo, despreparo e aborrecimento foram os sentimentos negativos mais frequentemente referidos. Observou-se também intensidade forte de sentimentos positivos e intensidade razoável ou baixa de sentimentos negativos, com declínio do início para o fim do ano. Benevolência e esperança foram os sentimentos positivos menos referidos, ao passo que perplexidade, raiva e tristeza foram os sentimentos negativos menos prevalentes. Tais resultados chocam-se com o alto índice de transtornos mentais entre estudantes de Medicina referidos na literatura especializada e chamam a atenção para a necessidade de mais estudos nessa área e para a valorização do campo de prática com o usuário do sistema de saúde na formação profissional. REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA 43 (1) : 13 -22 ; 2019 14 Isabela de Oliveira Kaluf et al. http://dx.ABSTRACT The current medical course curricula give students opportunities to gain practical experience with the SUS (Unified Health System) and with the people who use it. This interaction is generally referred to as "early contact" with patients. This early contact generates positive and negative feelings in the students. However, few Brazilian papers have addressed this issue. The purpose of this paper is to describe the feelings experienced by medical students of a private institution in the state of São Paulo, at three important times during the course: when they begin new activities with users of the SUS (1 st year), during interactions with their local community in Primary Health Care, in the medical outpatient clinic (2 nd year), and during the Internship (3 rd year). Demographic identification data and data on t...