O Futebol “De Várzea” É “Uma Várzea”!? Etnografia Da Organização No Circuito Municipal De Porto Alegre

Abstract

Este estudo retrata a análise da relação entre a noção de organização quando aproximada “da várzea”. Fizemos isso tendo como base um estudo etnográfico multilocalizado realizado entre fevereiro de 2009 e dezembro de 2011, num circuito de futebol da cidade de Porto Alegre, reconhecido como “Municipal da Várzea”. Nesse circuito foram produzidas diferentes trajetórias de imersão, com o intuito de seguir pessoas, práticas e artefatos relacionados aos processos de organização das competições e dos times. Procuramos mostrar como a “organização varzeana” resulta da tensão entre dois modelos, aqui compreendidos a partir das categorias “mais próximo do profissional” e “aqui é a várzea”. Com base no exercício de análise do campo empírico, pudemos entender que a expressão “uma várzea”, no universo da organização futebolística estudado, não pode ser compreendida simplesmente como falta ou carência de organização, mas sim enquanto construções locais que não estão suscetíveis tão somente às lógicas de um universo simbólico, pois dependem do reconhecimento de dinâmicas e agenciamentos da vida cotidiana que vão para além do jogo propriamente dito.

Situações etnográficas reversas: reflexões sobre construções culturais no contexto futebolístico

“…Mauro Myskiw (2012), que investigou o futebol de várzea em Porto Alegre, foi inicialmente identificado pelos nativos como estagiário da prefeitura, mas também como o professor que ajudava a organizar a competição, além de estagiário da Secretaria Municipal de Esportes ou o jornalista que enviava fotos e textos para veículos de imprensa locais. Arlei Damo (2005), em sua tese, também conta que seu estatuto de pesquisador foi questionado quando atuou como intérprete em um contrato de jogador com um clube francês.…”

Esporte, Drogas e Juventude

“…Outro caso encontra-se na tese de doutorado de Mauro Myskiw (2012). A relação de narcóticos com os esportes em espaços de lazer também aparece quando o autor descreve 'o círculo do tráfico' nos campos de futebol de várzea.…”

Capital Futebolístico e cotidiano

“…O sistema de produção e circulação de bens simbólicos é definido pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu (2008aBourdieu ( , 2008bBourdieu ( , 2011 como um sistema de relações objetivas entre diferentes instâncias, sendo estruturado pela função que cada uma cumpre na sua produção, reprodução e difusão. O sistema cultural fomentado a partir do gosto pelo futebol em diferentes localidades do mundo (BURDSEY, 2008;TUCKER, 2014;TORBJÖRN;HANS, 2017), do Brasil (PIMENTA, 2013MYSKIW, STIGGER, 2014;BUARQUE DE HOLLANDA, RIBEIRO, 2020) e em Ponta Grossa (OLIVEIRA, FREITAS JR, 2020), pode ser visto como um destes espaços de produção e circulação de bens simbólicos. DOI 10.21727/rm.v14i1.3587 Enquanto uma estrutura constituída, o campo futebolístico pode ser interpretado através da hierarquização de suas posições.…”