O papel das Cadeias Curtas de Comercialização na construção de um modelo de desenvolvimento rural sustentável no semiárido nordestino: o caso da Central de Comercialização da Agricultura Familiar do Rio Grande do Norte (CECAFES)

Abstract

Há aproximadamente duas décadas observa-se uma tendência mundial de valorização dos chamados circuitos curtos de comercialização. Estes são concebidos, por governos, organizações da sociedade civil e academia, como estratégias importantes na conformação de um sistema agroalimentar, alternativo, baseado em modelos produtivos mais sustentáveis e em formas mais justas de consumo. As análises contidas neste artigo procuraram compreender em que medida os circuitos curtos criados pela Central de Comercialização da Agricultura Familiar (CECAFES), no Estado do Rio Grande do Norte - Brasil, têm potencial para colocar em curso um modelo de produção e consumo mais sustentável na região semiárida, conforme sugerido pela literatura. A partir da pesquisa de campo com 15 agricultores (representantes dos mais de três mil agricultores do semiárido), recuperou-se a trajetória de formação dessa cadeia, destacando o papel dos produtores, dos consumidores e dos atores externos a ela vinculados. Os resultados revelam o protagonismo dos agricultores e suas organizações na garantia de volume e diversidade de produtos, sobretudo os agroecológicos. A aproximação com os consumidores tem ensejado a busca por novas formas de certificação da produção orgânica, ampliando rendimentos e abrindo outros canais de comercialização. Já do ponto de vista dos consumidores há uma percepção muito imprecisa sobre o papel que estes podem cumprir na sustentação dessas cadeias. A opção por esse tipo de mercado é orientada, em grande medida, por preocupações ligadas à sua própria saúde, pelos baixos preços ou comodidade na locomoção, revelando pouco compromisso social. Apesar da importância desses circuitos, a emergência de um sistema agroalimentar alternativo, fundamentado em novas formas de racionalidade socioeconômicas e ambientais, em especial por parte dos consumidores, podem ser comparadas a brotos ou sementes de uma transição desejada (Ploeg, 2008) que ainda terá um longo caminho a percorrer.

Feiras livres e a capilaridade das cadeias curtas em Porto Grande – AP

“…Por fim, um curto-circuito pode ser definido em termos de sua proximidade geográfica, relações sociais, vínculo atual entre o produtor e o consumidor, desenvolvimento local e incrustação de alimentos (Amaral et al, 2020). A capilaridade é tida com uma característica das cadeias curtas, na qual são instituídas estratégias para prover o seu desenvolvimento, expansão das vendas e produtos, fomentando assim o crescimento dos agricultores familiares bem como das feiras livres (Ochoa et al, 2019).…”

“…As mudanças sociais, políticas, técnicas, econômicas e culturais, levou ao surgimento de um industrializado sistema agroalimentar (Lopes et al, 2019), com predominância de uma estrutura globalizada das grandes empresas de processamento de alimentos e supermercados (Amaral et al, 2020). Esses fatores, indubitavelmente, alteraram a dinâmica relacional entre os consumidores, devido a pluralidade de atores que passaram a participar desse processo (Vale et al, 2020).…”

“…No entanto, este modelo está levantando preocupações e está sujeito a críticas em muitos pontos de vista, entre os quais difícil acesso ao mercado para pequenos proprietários e pequenas e médias empresas, poluição ambiental e ameaça à segurança alimentar e nutricional (Amaral et al, 2020).…”

“…A "revolução" instituída por iniciativas Cadeias Curtas Agroalimentares (CCAAs) ou Circuitos Curtos de Comercialização, especialmente na Europa e no Estados Unidos (Lopes et al, 2019), e mais recente nos estudos abordados no Brasil (Aguiar, DelGrossi, & Thomé, 2018;Amaral et al, 2020;Renting, Marsden & Banks, 2017;Vale et al, 2020), estão contribuindo para os objetivos da Agenda 2030 das Nações Unidas para a Sustentabilidade e redução da fome e pobreza.…”

“…Aguiar et al (2019) através da revisão bibliográfica, apontou as características das cadeias curtas com o fomento da agricultura familiar. Amaral et al (2020) analisaram as medidas do circuito curto instituídas pela Central de Comercialização da Agricultura Familiar no Estado do Rio Grande do Norte, para prover o consumo sustentável na região semiárida.…”