ResumoA velhice é uma etapa da vida marcada por múltiplas perdas simbólicas eou concretas que, embora se apresentem inelutáveis e façam parte integrante do ciclo de vida, são, para o sujeito que as vivencia, experiências penosas, que obrigam a uma adaptação à nova realidade, ou seja, a novas formas de existir. Esta problemática, que toca de forma bastante profunda as dimensões simbólicas da práxis quotidiana dos indivíduos que vivem em estruturas residenciais, reflete-se, em especial, na (re)construção da identidade dos sujeitos. Nestes contextos específicos, as práticas sociais e culturais, enquanto dimensões-chave potenciadoras de momentos de ócio, assumem uma notória relevância na forma como é feita a adaptação à perda e a (re)construção do eu é realizada. Tendo como base estes pressupostos, o presente artigo está estruturado em duas partes fundamentais: numa primeira parte, faremos um enquadramento teórico, analisando a velhice contemporânea sob pontos de estruturação diversos, mas interrelacionados, em que será dado especial relevo às dimensões social e cultural deste fenómeno; será, ainda, realizada uma abordagem ao luto, analisando-o enquanto tarefa de desenvolvimento, destacando a relação existente entre o contexto cultural e as práticas de adaptação à perda; por fim, estudaremos a relação existente entre ócio, cultura e temporalidade no desenvolvimento da pessoa idosa institucionalizada. Na segunda parte, iremos discutir os resultados obtidos numa investigação qualitativa e exploratória por nós conduzida junto de idosos institucionalizados em Portugal. Assim, através da utilização de histórias de vida, percebemos as representações dos participantes do estudo relativamente à influência que as atividades culturais, quando transformadas em experiências de ócio, detêm na adaptação à perda emocional profunda e na (re)construção da identidade, sobretudo em contextos específicos de institucionalização.Palavras-chave: velhice; institucionalização; perda; ócio; cultura.
Abstract