Neste trabalho, refletimos sobre a relação entre linguística formal e ensino de gramática na Educação Básica, a fim de discutir como o estudo científico da língua pode contribuir para a renovação do ensino de determinados fenômenos gramaticais nesse nível da educação escolar, especialmente aqueles cuja análise permanece controversa mesmo em pesquisas linguísticas recentes. Nosso olhar recai sobre um tópico específico: os diferentes usos de adjetivos, notadamente o uso predicativo desses atributos, como séria em Maria fez o trabalho séria, e o seu suposto uso adverbial (atributo sem –mente), como rápido em Ana andou rápido. Nosso interesse na relação entre esse tema e o ensino decorre de algumas razões: (i) alguns estudantes têm apresentado dificuldade em distinguir entre esses dois usos; (ii) frases em que o adjetivo está na forma correspondente à do masculino singular podem apresentar ambiguidade entre uma leitura predicativa e uma leitura adverbial do atributo, como ocorre em Ele trabalhou sério, e os alunos têm de entender o fenômeno da ambiguidade e compreender que diferentes interpretações devem ser associadas a estruturas sintáticas diferentes (Franchi; Negrão; Müller, 2006); (iii) embora ainda não haja consenso, nas pesquisas linguísticas, acerca da análise adequada de sentenças com o atributo sem –mente (Lobato, 2008; Foltran, 2010), esse conteúdo já é abordado em gramáticas, bem como em provas de certames públicos, e isso revela que se espera do egresso de Ensino Médio certa familiaridade com o assunto. Para tratar da interação entre linguística e ensino, embasamos nossas observações nos trabalhos de Lobato (2015, 2018), Guerra-Vicente e Pilati (2012), entre outros. Na sequência, discorremos sobre adjetivos e seus diferentes usos, apresentando sugestões de como abordar esse conteúdo em sala de aula.