Onde e Como se Suicidam os Guarani e Kaiowá em Mato Grosso do Sul: Confinamento, Jejuvy e Tekoha

Abstract

Resumo O território para os povos originários é fundamental para a saúde e reelaboração cultural de seus modos de ser, na relação entre natureza, cultura e relações de poder/resistência. O direito a viver ou morrer se liga à territorialidade na luta pela terra. O objetivo deste trabalho consistiu em analisar onde e como ocorrem os suicídios de Guarani e Kaiowá na contemporaneidade. Realizou-se uma pesquisa qualitativa de análise documental de reportagens veiculadas em jornais de maior circulação no estado de Mato Grosso do Sul. A busca foi realizada em 23 jornais, mas apenas 12 deles apresentaram notícias com a temática a partir da combinação dos descritores: Suicídio, Guarani, Kaiowá, Índio e Indígena. Constituiu-se uma amostra com 100 reportagens que informaram 105 ocorrências de suicídio no período entre 2002 a 2018. Os dados revelam que a violência é frequente nas reservas indígenas em que os Guarani e Kaiowá foram confinados no sul do estado. Os casos se concentram em aldeias dos municípios de Dourados e Amambai, a maioria entre jovens adultos com idade entre 12 e 22 anos, do sexo masculino. A eminente maioria (95%) cometeu suicídio pela prática do enforcamento (jejuvy). As causas para o suicídio variam desde explicações orientadas pela cosmologia, o feitiço, formas culturais de morrer, desterritorialização de seus tekoha e a inserção econômica marginal. Considerando os dados alarmantes, sugere-se a criação e implementação do CAPS indígena, com o envolvimento de atores institucionais, como a Sesai e a Secretaria Municipal de Saúde, além de lideranças religiosas, Ñhanderu e Nhandecy.

The Risk of Dying of Suicide in Brazil: A Study Carried Out According to Sex, Age and Indigenous Ethnictiy

“…Data collected in a large part of these populations show this is not a generalized phenomenon, but actually located in specific communities and ethnicities (SESAI, 2017). This is what indicated the study of Staliano, Mondardo and Lopes (2019), which adresses the suicide of the Guarani and Kaiowá people in Mato Grosso do Sul, showing the high violence present in the indigenous villages and the elevated rates of suicide of male indigenous young adults (between 12 and 22 years) in indigenous villages of Dourados and Amambai. Such results may have been presented before, once the municipalities of Japorã, Tacuru, Paranhos, Amambaí, São Gabriel da Cachoeira, Coronel Sapucaia, Juti, Bonfim, Amajari and Tabatinga presented elevated values of SMR related to the suicide of young people and, simultaneously, according to SESAI (2017), elevated rates linked to indigenous suicide.…”

“…Grubits, Freire e Noriega (2011) suggest suicide of young indigenous people may also be related to the loss of tradition of the initiation rite for the passage to the adulthood. The territory for the originary inhabitants is fundamental for the health and cultural re-elaboration of their ways to be, in the relationship among nature, culture and about relations of power/resistance, living or dying is linked to the territoriality in the struggle for land (STALIANO et al, 2019). In terms of complex societies and the relations among communitarism, share capital and beneficial effects in health and which reflect the dominant agenda in public health, many connections can be identified.…”

Análise Da Predominância De Sintomas Depressivos E Suicídio Na População Indígena: Uma Revisão De Literatura

“…A violência institucional/estrutural e a desapropriação de terras, aliados à pobreza extrema e à perda de identidade cultural levam ao suicídio, visto dentro da cultura como um ato de resistência. 18 Ademais, o método mais prevalente de suicídio é o enforcamento, chamado de Jejuvy pelos Guarani e Kaiowá, que significa "sufoco"/"aperto na garganta". Ayvu, termo antagonista, traduz o fundamento constitutivo da pessoa, cuja morada é na garganta.…”

O suicídio indígena Guarani-Kaiowá no antropoceno: solastalgia e schlammbugrismo

“…De acordo com etnógrafos trabalhando com estes grupos, há um valor adicional no debate aberto e continuado sobre o suicídio que ocorre há mais de três décadas. Isto seria uma contribuição para outras etnias em outras regiões do país, onde a ocorrência de "suicídios indígenas" é uma questão mais recente na esfera pública (Pimentel, 2012;Staliano et al, 2019). Talvez se possa acrescentar ainda que o debate político fornece linguagem e memória ao luto dos sobreviventes, paradoxalmente compondo uma estratégia de prevenção "de branco".…”