Os conectores e seu papel na construção de imagens identitárias: uma perspectiva pragmática

Abstract

Este trabalho busca evidenciar o papel das relações de discurso na negociação de imagens identitárias (faces e territórios). Para isso, inicia-se com a apresentação de uma abordagem pragmática para o estudo das relações de discurso. Nessa abordagem, as relações de discurso permitem ao locutor tentar anular implicaturas prejudiciais para si, para um dos interlocutores ou para todos. Em seguida, o estudo focaliza especificamente a relação de causalidade sinalizada pelo conector português porque. Verificamos que essa relação permite ao locutor realizar ações mais específicas, ligadas ao domínio (conteúdo, epistêmico ou atos de fala) a que pertence, revelando sua obediência a determinada/s regra/s de conduta. Por fim, à luz da abordagem proposta, analisamos as ocorrências desse conector no último debate eleitoral da campanha pela Presidência da República, em 2014.Palavras-chave: relações de discurso; conector porque; interação.

Articulação textual e interação: o papel da sequencialidade no estudo das relações textuais

“…Já no interior do turno, as relações e seus marcadores constituem importantes mecanismos que permitem ao locutor projetar a forma como pretende desenvolver e completar esse turno. Assim, enquanto uma expressão adversativa (mas) bloqueia ou frustra a expectativa criada pelo termo à esquerda da expressão, o uso de uma expressão causal (porque) posposta a uma asserção sinaliza a introdução de uma justificativa e a decisão do locutor de não ceder o turno (Corminboeuf, 2015;Cunha, 2022b;Oliveira, 2022).…”

A Relação De Contra-Argumento Em Uma Abordagem Interacionista Para O Estudo Das Relações De Discurso

“…A abordagem interacionista adotada neste trabalho tem sido desenvolvida nos últimos anos por Cunha (2015Cunha ( , 2016Cunha ( , 2017Cunha ( , 2019Cunha ( , 2020aCunha ( , 2020bCunha ( , 2021aCunha ( , 2021bCunha ( , 2021cCunha ( , 2022aCunha ( , 2022bCunha ( , 2022c, no âmbito do Grupo de Estudos sobre Pragmática, Texto e Discurso, sediado na Universidade Federal de Minas Gerais, conforme apresentado em Introdução.…”

“…Afinal, se é verdade que ser produtivo em tempos de pandemia é difícil ou impossível, Shakespeare não teria escrito uma obra durante a praga na Inglaterra. Portanto, a entrevistadora, com a relação contra-argumentativa, manifesta sua interpretação de que a resposta do entrevistado, justamente por infringir uma máxima conversacional (qualidade), é problemática do ponto de vista comunicativo (Cunha, 2020a(Cunha, , 2022b, sendo, por isso mesmo, ofensiva.…”