RESUMO:Os ferimentos penetrantes localizados na transição toracoabdominal (FTA), além da dificuldade diagnóstica, merecem especial atenção em relação à conduta adotada para o controle das complicações abdominais. Os autores analisaram 110 pacientes atendidos na Disciplina de Cirurgia do Trauma do Departamento de Cirurgia da UNICAMP, de 1988 a 1998, apresentando ferida penetrante toracoabdominal e submetidos à laparotomia exploradora com drenagem pleural fechada. As fístulas digestivas foram estudadas quanto à incidência, ao tratamento e à evolução pós-operatória. Do total de pacientes, 91 (82,7%) eram do sexo masculino e 19 (17,3%) do sexo feminino. A faixa etária situou-se entre 13 e 63 anos. Os FTA foram causados por projétil de arma de fogo (PAF) em 60 (54,5%) casos e por arma branca (FAB) em 50 (45,5%). As fístulas digestivas ocorreram em seis (5,4%) dos pacientes estudados, sendo quatro (3,6%) casos de fístula pancreática, um (0,9%) de fístula gástrica e um (0,9%) de fístula biliar, todos tratados de maneira conservadora, apresentando evolução favorável com resolução espontânea.
INTRODUÇÃOEstudos conduzidos na área do trauma têm dirigido especial atenção às lesões penetrantes localizadas em topografia a mais variada, em especial, àquelas que acometem a transição toracoabdominal com comprometimento do músculo diafragma-torácico. Estas, apresentam características próprias, sobretudo no que se refere à dificuldade diagnóstica e ao tratamento adequado. As lesões de vísceras ocas que, freqüentemente, acompanham estes ferimentos, podem ocasionar contaminação da cavidade peritonial com possibilidade de estender-se ao espaço pleural. 1, 2, 3 Assim, nestes pacientes, não é rara a ocorrência de deiscência da sutura dos órgãos intra-abdominais atingidos, que leva ao aparecimento de fístulas digestivas, com graves repercussões hidreletrolíticas e nutricionais, responsáveis por elevadas taxas de morbidade e mortalidade. 4,5 As controvérsias quanto ao tratamento são compreensíveis, dadas as dificuldades, já referidas, relativas ao diagnóstico correto. Por outro lado, como duas cavidades são atingidas, muito se discute sobre a conduta quanto às prioridades e às vias de acesso cirúrgico, com intuito de reduzir as possíveis complicações que podem acometer estas cavidades.Tendo em vista estas dificuldades, foram revistos todos os casos de ferimentos toracoabdominais (FTA) ocorridos nos últimos dez anos, objetivando avaliar a incidên-cia, o tratamento e a evolução das fístulas digestivas que acometeram estes pacientes.