O presente artigo pretende analisar o desastre nuclear de Tchérnobil, ocorrido em 1986 entre a fronteira da Ucrânia e da Bielorrússia. Seu objetivo é compreender como os efeitos da radiação transformaram Tchérnobil e seus arredores em “zonas contaminadas”, o que sugere uma espacialidade traumatizada. Para tanto, se recorreu a uma discussão, da área de psicologia, a respeito do trauma, sobretudo a partir de uma temporalidade e de uma linguagem traumática. Dessa forma, os efeitos dos radionuclídeos no ambiente, que por vezes fazem “a vida” e “a morte” se confundirem na silenciosa guerra radioativa, corroboram a interpretação de que, em termos naturais e físicos, o desastre nuclear é um exemplo de como o ser humano atualmente atua como agente central de modificação ambiental. Assim, recorreu-se às análises de Hannah Arendt a respeito dos avanços técnicos da Revolução Atômica e a conquista do espaço. Nesse sentido à luz dos debates do Antropoceno, o desastre nuclear demonstra a capacidade técnica de destruição ambiental –ou de autodestruição do nosso planeta – pela humanidade. Para um entendimento sobre a relação das testemunhas com o espaço contaminado, propõe-se uma leitura do acontecimento a partir do livro Vozes de Tchérnobil, da escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, em diálogo com os estudos científicos das áreas radiológica e química.