RESUMO Os morcegos filostomídeos são potenciais dispersores de sementes, devido ao seu hábito de forrageio e grande mobilidade, sendo os principais responsáveis pela regeneração de florestas neotropicais. No Mato Grosso do Sul as pesquisas com dieta de morcegos se concentram na região do Pantanal, com poucos trabalhos focados na porção de Cerrado, e somente um em área urbana. O objetivo deste estudo foi analisar a dieta de filostomídeos frugívoros em dois remanescentes urbanos de Cerrado em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, avaliando-se se a formulação da dieta das espécies é baseada em preferências alimentares específicas ou não. Os morcegos foram capturados em duas unidades de conservação (a Estação Ecológica Dahma e o Parque Estadual do Prosa) por 12 noites em cada área, usando-se seis redes-de-neblina, que permaneceram abertas durante seis horas a partir do ocaso. Após a captura, cada morcego foi mantido em saco de algodão individual por uma hora para coleta das fezes. As amostras fecais foram armazenadas individualmente em frasco hermético e imersas em glicerina, sendo posteriormente analisadas em laboratório. Todas as sementes encontradas nas amostras foram identificadas. Foram capturados 250 morcegos, distribuídos em dez espécies, oito gêneros e duas famílias. Os filostomídeos constituíram 93,2% das capturas (n=233). As espécies mais frequentes foram Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758) (27,6%) e Artibeus lituratus (Olfers, 1818) (27,2%). Foram encontradas sementes em 46 amostras fecais de sete espécies de morcegos filostomídeos. A maioria das sementes encontradas era da família Piperaceae (69,6% das amostras), sendo um recurso-chave consumido por quase todas as espécies de filostomídeos. Os frugívoros auxiliam na manutenção de unidades de conservação, pois promovem a auto-renovação, sendo a frugivoria um processo importante em remanescentes florestais. O consumo exclusivo de espécies pioneiras é um indício do papel de morcegos na manutenção destes remanescentes urbanos de Cerrado.