Resumo: O presente trabalho, em caráter ensaístico e ancorado em teorizações pós-críticas e feministas, objetiva problematizar o vínculo entre o Programa/Movimento Escola sem Partido (ESP) e o combate a uma suposta Ideologia de Gênero, apontando a criação de práticas de vigília, controle e normatização que se debruçam sobre os gêneros e as diferenças sexuais e instauram uma potência subjetivadora do medo nas pedagogias escolares e culturais. Como foco analítico, estabelece um percurso genealógico ao considerarem decorrência da leitura de Projetos de Lei, das proposições do website do movimento e da atualidade do contexto brasileiro, como os discursos religiosos fortalecem a perseguição aos estudos de gênero e se interpõem como política no país. Traz em seu escopo a discussão voltada para a ideia de que o ESP é uma biopolítica de exceção, ou seja, um modo de governamentalidade criado a partir do deslocamento de pensamentos e regras de grupos particulares, que se interpõem como o pensamento de todos os grupos sociais e como força de lei sem, contudo, constituir-se como lei. Discute como tal modo de governo congrega-se às narrativas políticas e religiosas e se funde ao ideário de uma Ideologia de Gênero que, supostamente, corrompe a moral devota de estudantes. Nessa concepção, os estudos de gênero são configurados como a não verdade do sexo natural e do cristianismo. O ESP se constela em discursividades perigosas e geradoras de preconceitos, de violências e de silenciamentos das dissidências sexuais e de gênero e das compreensões feministas sobre a constituição das pessoas.