Este artigo busca realizar um giro decolonial, a fim de expor a colonialidade de gênero, ao analisar a História das Mulheres Negras em Goiás. Nos propomos a compreender como a espiritualidade nutrida durante o contexto diaspórico, colonial, moderno contemporâneo, emerge enquanto uma diferença colonial, a partir das mesclas, choques e encontros com o catolicismo, que se apresenta como um lócus fraturado, e possibilitaram/possibilitam às mulheres negras suportar e ressignificar as distintas situações de opressão definidas a partir das fronteiras de gênero, raça e classe. Nossa hipótese é de que o estabelecimento do catolicismo, enquanto religião hegemônica do Brasil, dependeu em grande medida da atuação dessas mulheres negras na condução da religiosidade popular, como demonstraremos a partir de uma releitura da literatura sobre religiosidade e povoamento em Goiás do século XVIII ao XX. Assim, as mulheres negras, ainda durante a colonização do Brasil se organizaram, ora por meio do próprio catolicismo, como nas irmandades e congadas, ora por meio da manutenção da espiritualidade ancestral africana nos terreiros, ou em outras agremiações como ranchos e cordões, e essas ações coletivas, que chamamos de feminismos de terreiros, possibilitaram a elas a manutenção de uma coesão que foi perdida ou desarrumada durante o processo de escravização e também o enfrentamento ao racismo e as violências cotidianas contra às mulheres negras.