Este ensaio examina a forma como as práticas artísticas contemporâneas têm contribuído para uma descolonização epistémica e ético-política do presente através da investigação crítica de vários tipos de arquivos coloniais, quer públicos, quer privados, quer familiares, quer anó-nimos. Tomando como estudos de caso obras dos artistas Ângela Ferreira, Kiluanji Kia Henda, Délio Jasse, Daniel Barroca e Raquel Schefer, este ensaio indagará até que ponto a estética destas práticas videográficas, fotográficas e escultóricas implica uma política e uma ética da história e da memória relevantes para pensar criticamente as amnésias coloniais e as nostalgias imperiais que ainda caracterizam uma condição pós-colonial marcada por padrões neo-coloniais de globalização e por relações difíceis com comunidades migrantes e diaspóricas. Será prestada atenção às histórias e às memórias da ditadura portuguesa e do império colonial, das lutas de libertação / guerra "colonial" combatidas em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau entre 1961 e 1974, da Revolução dos Cravos de 1974, da independência das antigas colónias portuguesas entre 1973 e 1975 e do "retorno" massivo de colonos portugueses de Angola e Moçambique em 1975, sem perder de vista o apartheid na África do Sul e a forma como a Guerra Fria se desenrolou no continente africano.
Palavras-chaveArquivo colonial; espectros; descolonização; arte arquivística; imagem em movimento … um fantasma nunca morre, permanence sempre por vir e por regressar … estão sempre aí, os espectros, mesmo se eles não existem, mesmo se eles já não são, mesmo se eles ainda não são. Derrida (1994, pp. 123; 221) O arquivo funciona sempre, e a priori, contra si próprio. Derrida (1996, pp. 11-12) Nestas matérias, só se pode experienciar um assombrar, confirmando em tal experiência a natureza da própria coisa: um desaparecimento só é real quando aparece. Gordon (2008, p. 63) Ler de acordo com o grão do arquivo direcciona a nossa sensibilidade para a sua textura mais granular do que lisa, para a superfície áspera que lhe dá matiz e forma.