Resumo: O presente estudo analisa a fala da comunidade rural afrobrasileira de Cafundó, situada a 150 km da cidade de São Paulo. Entre 1978 e 1988, período em que os dados aqui analisados foram coletados, a comunidade contava com carca de 80 pessoas, descendentes de duas ex-escravas, irmãs, que herdaram as terras do seu dono. O livro publicado, em 1996, por Carlos Vogt e Peter Fry (com a colaboração de Robert Slenes) defende que a variedade denominada Cupópia apresenta estruturas do português regional e que parte do vocabulário é de origem Bantu. A análise morfossintática discute os casos de ausência de cópula, o uso da cópula em lugar do verbo possessivo, a ordem das palavras incomum no português, os substantivos sem determinante na posição de sujeito, o uso de artigos definidos em SNs preposicionais que correspondem a locuções adjetivas, bem como a concordância variável no SN e a concordância entre o sujeito e o verbo. Os resultados indicam que as características gramaticais da Cupópia não coincidem totalmente com os traços registrados no português falado pelos mesmos indivíduos, mas que são compartilhadas com variedades linguísticas mais reestruturadas do que o português falado em zonas rurais do interior do Estado de São Paulo.