Neste trabalho, pretendemos refletir sobre os processos de mudança relacionados aos compostos com fobia na língua portuguesa, considerando a forma grega φοβία, a sua latinização em phŏbĭa, a sua entrada ao português no século XVI e a proliferação de formas [X-fobia]S, a partir do século XIX. São analisadas tanto formas dicionarizadas (aracnofobia, claustrofobia, fonofobia, hidrofobia, necrofobia), quanto não dicionarizadas (brancofobia, casalfelizfobia, cabelobrancofobia, gordofobia, PDFfobia, pobrefobia, putafobia e uvapassafobia). O nosso aporte teórico-descritivo inclui os pressupostos da Morfologia Construcional, nos termos de Booij (2010), Gonçalves (2016), Soledade (2018) e Simões Neto (2022), e Gramática de Construções de orientação diacrônica, com base em Traugott e Trousdale (2021). Dentre muitas questões, o nosso artigo intenta avaliar: (a) se, do ponto de vista formal, o padrão X-fobia do português contemporâneo deixou de ser um composto morfológico, com um elemento preso (aracn[o]-fobia; fon[o]-fobia), para ser um composto morfossintático do tipo NN (pobrefobia, putafobia); (b) como, do ponto de vista semântico, a ideia de medo patológico das primeiras realizações atestadas deu lugar ao significado de aversão e de ódio na contemporaneidade. A avaliação do comportamento formal e semântico do padrão X-fobia nos permitirá dizer se se trata de uma mudança construcional ou de uma construcionalização. Considerando a envergadura da proposta, os dados analisados advêm de variadas fontes: (i) The Brill Dictionary of Ancient Greek (MONTANARI, 2005), para dados do grego; (ii) Dictionnaire Latin-Français (GAFFIOT, 2016), para os dados do latim; (iii) Dicionário Houaiss Eletrônico de Língua Portuguesa (HOUAISS; VILLAR, 2009), para formas dicionarizadas do português; (iv) Twitter, para as formas não dicionarizadas.