A comunicação como trabalho no capitalismo de plataforma: o caso das mudanças no jornalismo

Abstract

O objetivo deste artigo é analisar as mudanças no mundo do trabalho do jornalista no cenário do crescimento do trabalho digital e capitalismo de plataforma. Ainda sob os efeitos da crise de 2007, o processo de reestruturação do sistema de produção capitalista tem provocado mudanças na base sociotécnica que indica transformações estruturais na sociedade. O binômio comunicação e trabalho é a abordagem teórico-metodológica para compreender essas inovações na geração de valor do capital, o qual não pode prescindir de processos comunicacionais para a própria existência das plataformas e, consequentemente, na cadeia global de valor.

As relações de comunicação e de trabalho de jovens jornalistas cearenses: um estudo sobre as dramáticas do uso de si, o ethos e a deontologia profissionais.

“…Não nos deteremos sobre todas, mas destacamos que a instantaneidade diz respeito "a uma possibilidade material de ausência do intervalo de tempo entre a ocorrência de um evento e seu registro, transmissão e recepção por um público, assim como uma referência simbólica que vincula fenômenos socioculturais a experiências do presente" (FRANCISCATO, 2019, p. 136-137). Essa definição aproxima-se da apresentada por Traquina 31 (2005b, p. 35) Apesar de tentar atribuir uma autonomia ao jornalista com essa afirmação, o que o autor deixa escapar é a ambivalência dessa ideia, pois dominar o tempo pode implicar realizar todas as tarefas de trabalho, tudo o que é demandado dentro da jornada de trabalho formal, mesmo que isso implique uma intensificação do trabalho (FÍGARO et al, 2020;2021a;ANTUNES, 1999;, atendendo assim ao imperativo da produtividade imposto pelo capital. Ou dominar o tempo e ser competente, do ponto de vista de um jornalismo emancipador e transformador, pode ser não sucumbir a esse imperativo produtivo do trabalho densificado e negociar prazos e fechamentos que permitam a realização da atividade com qualidade e sem sacrifícios pessoais e até mesmo negociar remunerações justas para a extensão das jornadas de trabalho, o calcanhar de Aquiles do jornalista, afinal é corrente a prática de não pagamento de horas extras trabalhadas em favor da política de compensação por folgas.…”

“…Uma prévia dessa condição foi vivida pelos comunicadores na pandemia da covid-19, quando tiveram que adotar o trabalho home office, vivendo um verdadeiro embaralhamento entre os tempos e espaços do trabalho produtivo e do trabalho doméstico. A mediação tecnológica por plataformas digitais, o imperativo de produtividade imposto pelos gestores, requerendo a disponibilidade quase que 24 horas por dia, assim como a ausência de prescrições para o trabalho abalaram o sentido de rotina e a segurança de muitos comunicadores, causando rupturas expressas por meio de adoecimentos (FÍGARO et al, 2020;2021a).…”

“…Apresentamos de forma panorâmica estudos que desenharam perfilações profissionais de jornalistas em âmbito nacional ou regional, os quais nos servem de parâmetro para a leitura de nossos dados, revelando a feminização do jornalismo e nos obrigando assim a problematizar as implicações da divisão sexual do trabalho e das opressões de gênero. de incertezas e de mudanças aceleradas (BARROS et al, 2020;FÍGARO et al, 2020;2021a).…”

“…duelo entre tempo de trabalho e tempo de descanso; pelas opressões de gênero; por disputas territoriais no espaço da casa; pelo aumento das despesas domésticas, pela dependência das plataformas para a realização das atividades de comunicação e trabalho, dentre outras (FÍGARO et al, 2020;2021a).…”

“…Nossa pesquisa se insere na tradição de estudos que investigam as transformações no mundo do jornalismo (MICK, LIMA, 2013;LELO, 2019;NICOLETTI, 2020) e na corrente de pesquisas ancoradas no binômio comunicação e trabalho (FÍGARO et al, 2020;2021a;2021b;BARROS et al, 2020;MOLIANI, 2020), que considera o trabalho e a linguagem, a comunicação, como atividades centrais para a constituição do ser humano como ser social. Nosso intuito foi investigar como jovens egressos do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará são afetados pelas mudanças produtivas no trabalho jornalístico.…”