A denegação representa o acto ou efeito de denegar, recusa, ou contestação (do est denegatione). O ciclo vital da dependência do álcool encontra-se intimamente relacionado com a denegação. A dependência do álcool pode definir-se como uma patologia neurocomportamental que à medida que evolui, contribui para a progressão da denegação.Para alguns indivíduos dependentes do álcool, a denegação pode tornar-se permeável perante a confrontação dos problemas relacionados com o álcool. Porém, noutros casos, esta permanece rígida e dificilmente destruída pela confrontação.O modelo psicodinâmico interpreta a denegação do abuso do álcool como um mecanismo de defesa inconsciente, que interfere com a capacidade do alcoólico em associar o seu comportamento de beber, às consequências do seu próprio alcoolismo (Breuer & Goldsmith, 1995).A denegação resulta da resposta a uma ameaça ao ego, o qual necessita de desconstruir, reinterpretar, ou até suprimir os acontecimentos ligados ao abuso e dependência do álcool. A tomada de consciência do problema do álcool representa um fenómeno bastante ameaçador para o ego, levando à rejeição emocional da verdade. Para Shaffer e Simoneau (2001), a denegação do alcoolismo emerge perante a dor psíquica resultante da ambivalência, a qual reforça a resistência e conduz o dependente do álcool a optar pelo lado menos doloroso do seu conflito.Wing (1996), avança com a hipótese de que a denegação do alcoolismo poderá representar a tentativa de manter a congruência entre o self e o contexto cultural. O autor, desenvolveu um modelo de progressão da denegação da doença alcoólica constituído por cinco estágios, os quais, invariavelmente, terão que ser percorridos, para ultrapassar o fenómeno da denegação: (1) reacção ao acontecimento crítico; (2) desafiliação; (3) antecipação ambígua; (4) afiliação de pares e (5) aceitação.Na literatura tem-se preconizado uma componente cognitiva associada à denegação do alcoolismo. Tarter et al. (1984), defendem um modelo biopsicológico da denegação do álcool, sustentado por três hipóteses: os alcoólicos são: (1) instáveis em termos fisiológicos, (2) possuem uma incapacidade cognitiva para discriminar estímulos interoceptivos e estados fisiológicos e (3) subestimam cognitivamente os 59