Pesquisas de diferentes áreas têm constatado uma série de problemas no processo organizativo de empreendimentos autogestionários em assentamentos rurais da reforma agrária, entre eles, a dificuldade dos trabalhadores rurais de participarem ativamente dessas organizações. Para pensar sobre esse problema, o objetivo do estudo apresentado neste artigo foi o de investigar as forças psicossociais e os sentidos atribuídos ao trabalho por assentados da reforma agrária organizados em cooperativas, que podem explicar as formas de participação dos cooperados na gestão dessas organizações. Foi realizado um estudo de caso em uma cooperativa localizada no Assentamento Mário Lago, região administrativa de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo. A pesquisa qualitativa foi construída em três momentos: o levantamento teórico/bibliográfico/documental, as observações das reuniões da cooperativa e as entrevistas semiestruturadas com nove cooperados. A análise se deu pela triangulação entre as diferentes fontes de informações. Dos resultados, destaca-se que predominava a participação instrumental, produzida por uma conjunção de forças psicossociais que reforçavam as dependências econômicas e simbólicas do grupo. Por outro lado, a cooperativa cumpria a função de pertencimento para os sujeitos, mas sem ligação com a participação real na organização. Essas diferentes forças foram construídas na desproporcionalidade entre as vivências do cotidiano dos trabalhadores, as suas trajetórias de vida e o modo como o cooperativismo é institucionalizado e imputado aos sujeitos, tendo como pano de fundo a reafirmação de interesses hegemônicos no mundo rural.