A história da seleção brasileira de futebol é marcada tanto por láureas como por derrotas que perduram no tempo e são frequentemente recontadas, como é o caso da Tragédia do Sarriá, nome dado à eliminação da seleção brasileira de 1982 da Copa do Mundo. Este artigo procura compreender a Tragédia do Sarriá como um dos eventos mais rememorados e intrigantes do futebol brasileiro, através da análise da construção de representações sobre o estilo de jogo da seleção brasileira de 1982, em livros publicados neste século que narram a trajetória desta equipe. Décadas após a Tragédia do Sarriá, a seleção brasileira de 1982 surge representada como a última seleção que praticou o futebol-arte, estilo de jogo tido como “genuinamente” brasileiro, sendo, por isso, vista como injustiçada pela não conquista do título da Copa do Mundo. Nesse processo construtivo, destaca-se a significativa participação da seleção brasileira campeã da Copa do Mundo de 1994 na posição de alteridade privilegiada.