O objetivo deste trabalho é analisar a elegia Tr. 5.3 de Ovídio, em que escreve ao colégio de poetas em ocasião das Liberalia, dirigindo-se, em ocasiões, ao deus Baco de forma direta, solicitando sua ajuda para acabar com sua relegatio na distante Tomos. Esta invocação de Baco e não do deus Augusto, retor do exílio ovidiano, tem levado os críticos a pensar que haveria aqui mais um velado ataque ao princeps. Buscaremos demonstrar, contudo, que a proximidade com Baco é mais uma tentativa de defesa de sua poesia e de afirmação de seu labor como poeta do que uma afronta direta ao princeps, além de contribuir com na construção do seu perfil como vates. Para tanto, em um primeiro momento, nos centraremos em examinar a forma e conteúdo do poema. Após isso, discutiremos diferentes posturas que leem nesta elegia uma afronta a Augusto. Por último, oferecemos nossa argumentação contra este tipo de posturas destacando que a associação de Ovídio a Baco como protetor dos poetas é congruente com a menção da Bacchica serta (Tr. 1.7.2), que coroa o poeta no começo dos Tristia.