“…Essa rija hierarquia no interior da casa convive com o clima de festa descrito, especialmente, na ilustração de Dias. A hybris que caracteriza o mundo da casa, como descrita por Araújo (1994), está claramente exposta nessa figura: os excessos se contrabalançam provendo à ilustração um sentido de harmonia, de equilíbrio. O sentido degradante do trabalho escravo é amenizado pelo clima de festa no interior da casa; na sala de jantar, numa ampla mesa de jacarandá (símbolo do caráter receptivo da casa, que nos primeiros tempos do Brasil fazia as vezes de "residência, igreja, colégio, botica, hospital, hotel, banco"), os convidados se regalam com os quitutes preparados na atribulada cozinha enquanto se divertem com a música de negros; na senzala, um outro grupo de negros toca instrumentos e embala o sono de um velho negro numa rede (lembremo-nos do negro e sua flauta da obra "Carro de boi" de Post); ainda na senzala, meninos brancos brincam com alguns negrinhos (na gangorra, no chão) e um outro sinhozinho brinca com seu "meninoleva-pancadas", algo como um bichinho de estimação no qual o menino exercitava, já em sua infância, seus ímpetos despóticos; próximo à beira do rio, um casal se ama intensamente.…”