Desde a retomada do pensamento ecológico-evolutivo na antropologia, com a Ecologia Cultural proposta por Steward (1949), a Amazônia tem sido palco de inúmeras discussões sobre o papel que o meio ambiente desempenha na estruturação das sociedades humanas, bem como na dinâmica evolutiva dessas populações (Stewardtrabalhos desenvolvidos sobre a adaptabilidade humana na região foram dominados por um conjunto de idéias que se originaram no paradigma determinista ecológico das décadas de 1960 e 1970 (Murrieta e Dufour, 2004).Como conseqüência dessa orientação teórica, na maior parte das discussões sobre a natureza das limitações ambientais na Amazônia, identifica-se uma tendência à escolha de fatores limitantes únicos (Moran, 1991). Um exemplo disso é que a planície amazônica é classicamente dividida em dois grandes ecossistemas, com base na produtividade de suas terras: a várzea e a terra firme (Moran, 1993).Betty Meggers, inspirada nas idéias de Steward, propôs que a terra firme e a várzea, imporiam distintas limitações ambientais às culturas humanas (Meggers, 1958). Nessa classificação, as populações das várzeas, diferentemente das de terra firme, ocupavam áreas de melhor potencial agrícola, o que teria possibilitado uma população mais densa e sedentária, bem como alguma forma de estratificação social (Meggers, 1958). Alguns autores se opuseram a essa visão (Carneiro, 1970;Gross, 1975), defendendo diversos outro fatores responsáveis pela limitação à complexificação social na Amazônia. A proposição que gerou maior repercussão foi a de que a escassez de proteína animal seria o fator limitante à ocupação humana na região (Gross, 1975). Novamente, diversos pesquisadores levantaram críticas pertinentes a esse modelo, as quais incorporavam elementos como: a possibilidade de acesso à proteína vegetal da Floresta Tropical (Beckerman, 1979); a abundância de recursos aquáticos que poderiam fornecer quantidades suficientes de proteínas (Carneiro, 1995); a diversidade e complexidade dos ambientes Amazônicos (Sponsel, 1986); a complementaridade da várzea e da terra firme (Denevan, 1996); e a habilidade das populações humanas locais em usar a grande diversidade de recursos e microambientes de maneira eficiente (Moran