Confundir este livro com os manuais de História da Educação é compreensível. Tomar esta obra como uma introdução ao Ensino de Geografia também o é. Entender esse projeto como uma compilação de perfis seria justificável. Considerar os textos enquanto um resumo dos cânones pedagógicos – eis algo provável. Concluir que existe uma hierarquia no pensamento geográfico-escolar, com autores acima de outros: um caminho óbvio. Entretanto, quando comecei o trabalho, tais pressupostos foram justamente aqueles que não me interessavam, aqueles que eu desejava evitar. Mas isso não significa que eles não estiveram no retrovisor. Importante, pois foi a partir deles, junto a eles e contra eles que pude traçar uma perspectiva metodológica, aventada por certas questões. Cabe-me explicitá-las. Antes de tudo, uma questão de relevância pairava sobre o projeto. Que diferença faria realizá-lo? Ele seria bem-vindo à área ou não? Uma pesquisa que abarque um diálogo entre autores fundamentais para o ensino de Geografia: quem nunca se sentiu fascinado por algo denominado como clássico? Mas há outros argumentos. A Geografia escolar no Brasil, desde que se fez institucionalizada e disciplinar, esteve alicerçada em bases provenientes tanto das pedagogias quanto das teorias do conhecimento. Vinculada a abordagens epistemológicas e filosóficas, testemunhou ao longo da sua formação mudanças paradigmáticas, giros conceituais e influências didáticas e científicas, de modo que não é exagero dizer que seus pesquisadores nunca desistiram de colocá-la na vanguarda. Lastimavelmente, muitos professores tendem a conjecturar o atual como moderno (e melhor) e o velho como arcaico (e pior). Não raro, olham para o passado do ensino de Geografia com desdém, partindo da prerrogativa de que esse seria uma fase histórica conservadora, atrasada e eivada de más práticas. Para a infelicidade de alguns, mostrarei que não é bem assim que as coisas funcionam, de modo que se quisermos compreender a trajetória da Geografia escolar brasileira, uma viagem de volta ao passado é obrigatória. Sem preconceitos, sem estereótipos, sem juízos enviesados ideologicamente: foi o que tentei fazer.