A identidade denegada. Discutindo as representações e a autorrepresentação dos caboclos da Amazônia

Abstract

O artigo discute como os caboclos amazônicos são representados pela etnografia, história, literatura e pelo senso comum da região, assinalando como, nesses diversos corpora discursivos, está presente certa ambivalência, estruturadora do padrão narrativo que a sociedade amazônica usa quando se refere a eles. Categoria social de representação ou tipo ideal constituído na história amazônica, os cablocos seriam uma anti-identidade, ou melhor, uma identidade paradoxal, denegativa. Uma questão que só tem sentido na violência simbólica que os institui como sujeito social.

Ciganos como povos e comunidades tradicionais

“…(Souza 2013, s. p.). Justamente por ser ampla, essa categoria é permanentemente entendida como sendo ressemantizada por grupos que, historicamente invisibilizados, ousam agora reivindicar designação territorial e o direito de se autonomear (Castro 2013). Essa postura se expressa também na emergência de novas reivindicações.…”

Dissidências, alteridades, poder e políticas: antropologias no plural

“…Segundo alguns especialistas, a identidade cabocla teria sido forjada para negar as múltiplas formas de organização social e cultural das sociedades pré-coloniais, contribuindo, assim, para recusar a possibilidade existencial aos povos indígenas deslocados ou então assimilados (CASTRO, 2013;HARRIS, 2006;RODRIGUES, 2006). Mas segundo Taketa: [...] essa identidade em formação não consegue elimin[ar as múltiplas formas de organização social e cultural das sociedades pré-coloniais] em sua totalidade, tendo, diante de uma agência a proprietários dos meios de produção e/ou a "pessoas de posses" por meio do crédito.…”

Diálogo entre saberes no projeto “Ciência na Ilha”, em Belém do Pará

“…Na Amazônia, ribeirinhos também são chamados de "caboclos", termo, em certa medida, depreciativo, uma "anti-identidade", como analisa Castro (2014). Segundo o autor, essa denominação é fruto do processo histórico da colonização europeia, que invisibiliza e silencia povos indígenas, quilombolas e, em especial, esses grupos que, por não serem nem índios, nem brancos, foram identificados, à sua revelia, como caboclos.…”