Fabiana, estudante de medicina, pouco mais de 20 anos, loura e pequena, atende à d. Magali, uma senhora que aparenta ter por volta de 60 anos, negra e muito gorda.No começo da consulta, Fabiana falava com uma voz baixa e hesitante, parecia não ter incorporado bem o seu personagem e, por isso, tentava improvisar no papel de médica, sem demonstrar muita confiança em seu desempenho. Ao longo do encontro clínico, sua performance foi ganhando mais desenvoltura. E após concluir a primeira fase da consulta em que recolheu informações sobre a paciente (quando preencheu uma ficha com dados socioeconômicos, recuperou a história da doença, ouviu os sintomas, anotou os resultados das análises laboratoriais e fez o exame clínico: tomada de pressão e freqüência cardíaca), chegou então a hora de apresentar o caso aos preceptores para que eles deliberassem acerca de tratamento e/ou prescrevessem novos exames. Na ausência momentânea dos dois responsáveis pelo ambulatório (um cardiologista e uma endocrinologista), ela inicia a discussão do caso -ali mesmo, na sala em que há pouco prestava atendimento e em frente à paciente que fora objeto de sua atenção -com um residente de cardiologia, Alberto. A conversa entre eles flui sem problemas, até ela perguntar se pode recomendar a d. Magali que faça caminhadas.A resposta para esta questão o residente busca em um exame que mostra as zonas irrigadas ou obstruídas do coração. Comenta -sempre diante da paciente -que o caso parece ser gravíssimo, o resultado foi homogêneo e isto significa que está tudo obstruído ou desobstruído. Como ela teve um IAM e é muito gorda, diz ele, o mais provável é a primeira hipótese e o seu estado, portanto, é gravíssimo, repete ele, de modo que ela não pode ser liberada para nenhum tipo de atividade física.