RESUMO.Este artigo enfoca a evolução dos conceitos de saúde/doença, bem como a dicotomia mente/corpo através de uma breve revisão histórica. Aborda desde o conceito mágico de doença, passando pelo período grego clássico, pela visão medieval e renascentista e a evolução destes construtos com raízes na psicanálise até a psiconeuroimunologia.Palavras-chave: medicina psicossomática, mente e corpo, história da psicossomática.
MIND AND BODY CONCEPT THROUGH HISTORYABSTRACT. This article focuses the evolution on the concepts of health/illness and mind/body dichotomy. For this a brief historical review was carried out. It approaches the magic point of view of disease, going by the classic Greek period, through the renascence and medieval prospects, and the evolution of these constructs from psychoanalysis to Psychoneuroimunology.
Há síntese maior que o ser vivo
GoetheTanto o conceito de saúde e doença quanto a discussão da relação mente e corpo têm sido objeto de interesse ao longo da história. A superstição, a magia e o ato de curar eram mesclados e a figura do médico e sacerdote encontrava-se neste amálgama, como atesta o homem (médico) com a máscara de cervo encontrada na caverna de Trois Frères, datada de cerca de 16000 anos, tida como a mais antiga representação do homem curador de enfermidades (Calder, 1970). Segundo Ramos (1994), o xamã era o mediador entre as forças cósmicas e o doente. Outras civilizações antigas, como a assírio-babilônica, davam conta da associação dos demônios e doenças, como era o caso das doenças oculares, atribuídas ao vento Demônio do Sudoeste. Na mitologia grega várias divindades estão vinculadas à saúde:Apolo, Esculápio, Higéia e Panacéia. Já em um período posterior grego, Hipócrates, Platão e Aristóteles já consideravam a unidade indivisível do ser humano.Platão descrevia a alma como preexistente ao corpo e a ele sobrevivente, enquanto Aristóteles postulava que todo o organismo é a síntese de dois princípios: matéria e forma. A visão popular de doença atribuía as enfermidades aos deuses, como pode ser observado no caso da peste que afligiu os gregos, descrita na Ilíada de Homero. Hipócrates de Cós (460 a.C.), que deu à medicina o espírito científico, em uma tentativa de explicar os estados de enfermidade e saúde, postulou a existência de quatro fluidos (humores) principais no corpo: bile amarela, bile negra, fleuma e sangue; desta forma, a saúde era baseada no equilíbrio destes elementos. Ele via o homem como uma unidade organizada e entendia a doença como uma desorganização deste estado (Volich, 2000). Karol (citado por Porto, 1924) acrescenta que a partir destes conceitos Hipócrates afirmava que os asmáticos deviam se resguardar da raiva. Ressalta ainda que, no período helênico, Demócrito via o corpo como uma tenda (skênos), habitação natural da alma, tida como a causa da vida e da sensação. A teoria democritiana preconizava que os átomos da alma (que eram finos e