RESUMOO estudo teve como objetivo explorar a percepção de anestesiologistas sobre a identificação e manejo da sede, sintoma altamente prevalente no pós-operatório imediato. Estudo qualitativo e descritivo realizado em um hospital universitário de grande porte no Sul do Brasil, com onze participantes, sendo sete docentes e quatro residentes de anestesiologia. Os dados foram coletados por meio de instrumento semiestruturado, e os discursos, analisados pelo referencial metodológico descrito por Martins e Bicudo. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina (CAAE: 02299412.6.0000.5231). Dos resultados emergiram duas categorias: "Sede: um sintoma não percebido", que evidenciou a falta de avaliação intencional da sede, e "Encontrando dificuldades para a avaliação e manejo da sede", que demonstrou a ausência de protocolos que subsidiassem e estabelecessem o seu manejo. Concluiu-se com o estudo que,para os anestesiologistas, a sede ainda se mostra como um sintoma de menor relevância no pós-operatório imediato. Este cenário requer ações multidisciplinares e intencionais para que este sintoma não continue sendo subidentificado, submensurado e subtratado na prática clínica.Palavras-chave: Sede. Período pós-operatório. Anestesia. Enfermagem perioperatória.
INTRODUÇÃOCaracterizado pela constante observação dos parâmetros vitais do paciente, o cuidado no pós-operatório imediato (POI) objetiva a identificação precoce de complicações, possibilitando que a equipe multiprofissional atue preventivamente na resolução, garantindo recuperação rápida, segura e confortável (1) . O anestesiologista desempenha papel fundamental no cuidado ao paciente no POI, coordenando as ações terapêuticas e de intervenção com o propósito de promover o bem-estar perioperatório (1) . Dentre as complicações que podem acometer o paciente no POI, a sede apresenta alta prevalência (75%) (2) e interfere de forma prejudicial na recuperação pós-anestésica. Relatos de pacientes indicam que a sede causa grande distresse e, consequentemente, acarreta sentimentos negativos, como ansiedade e irritabilidade, com alusões a sentimentos de desespero e até pensamentos de morte (3) . Ainda que, no POI, a sede tenha alta prevalência e intensidade e represente distresse, paradoxalmente ela permanece subidentificada e submensurada, e as medidas de alívio na prática clínica não estão padronizadas (1,5) . Diferentes processos podem levar o paciente cirúrgico a sentir sede. Entre eles, o jejum excessivo durante o período pré-operatório, contrariando evidências científicas (2,5) . A ansiedade perioperatória e os medicamentos anestésicos, particularmente opioides e anticolinérgicos, atuam na diminuição da secreção salivar, ressecando a cavidade oral, que, por sua vez, deflagra a liberação do hormônio antidiurético, intensificando a sede (6) . O sangramento intraoperatório é responsável por desencadear a sede hipovolêmica (2,6) . Consequentemente o paciente cirúrgico faz parte de um grupo de alto risco para ...