A revascularização miocárdica em pacientes multiarteriais, ou seja, com lesão igual ou superior a 50% em mais de uma artéria coronária, vem assumindo um crescente destaque no contexto da cardiologia intervencionista atual, já que, há alguns anos, era uma afecção eminentemente cirúrgica.A angioplastia transluminal coronária com o balão foi investigada como opção terapêutica com resultados intrahospitalares satisfatórios, entretanto, a alta taxa de reestenose com conseqüente necessidade de reintervenção na evolução foram fatores limitantes desta técnica, principalmente em pacientes multiarteriais diabéticos.O advento das endopróteses coronárias (stents) propiciou uma melhora importante dos níveis de reestenose em pacientes uniarteriais, o que motivou a utilização desta estratégia terapêutica também em multiarteriais. Os resultados dos estudos disponíveis (ERACI-II e ARTS) evidenciaram taxas semelhantes de eventos maiores irreversíveis (óbito, infarto e acidente vascular encefálico), quando comparados stents e cirurgia cardíaca, no período de um a três anos. Contudo, apesar da queda dos níveis de reestenose clínica pós-implante de stents em relação ao balão, ainda a cirurgia foi mais eficaz quanto à necessidade de reintervenção. Por outro lado, sabe-se que, idealmente, a melhor estratégia terapêutica é a que também oferece melhor custo-efetividade, e os stents comparados ao tratamento cirúrgico, no estudo ARTS, mostraram-se mais custo-efetivos.No momento, frente às evidências, sugere-se a individualização do tratamento, analisando-se os aspectos clíni-cos e angiográficos; o risco pré, peri e pós-procedimento (conforme o risco de eventos cardiovasculares adversos maiores); e os custos. É igualmente necessário considerar a própria opinião do paciente após a exposição das possibilidades terapêuticas.Destaque-se, contudo, que se torna necessária a constante realização de estudos comparativos, envolvendo os avanços recentes dos métodos de tratamento da doença arterial coronária para fundamentar a decisão da estratégia terapêutica, o mais adequadamente possível. Isto porque, particularmente, a intervenção percutânea é uma alternativa de revascularização em constante e rápida evolução, devido aos novos tipos de stents, às técnicas de otimização do implante dessas próteses e à terapêutica farmacológica antiplaquetária mais potente, que têm contribuído para a progressiva melhora dos resultados.
IntroduçãoO conceito doença coronária multiarterial pode ser definido como a presença de lesão igual ou superior a 50%, pela análise visual da angiografia em duas ou mais projeções, em mais de uma artéria coronária [1][2][3][4][5] .A importância do tema reflete-se na prática pelo aumento crescente de intervenções percutâneas em pacientes multiarteriais, que, no Brasil, passou de 34,4% em 1992-93, para 38,8% em 1996-97 do total de procedimentos terapêuti-cos realizados no país, correspondendo a um aumento de 2.894 casos em número absoluto, de acordo com os dados do registro nacional da Sociedade Brasileira de Cardiologia Intervencioni...