A universidade como um “viveiro” de vocações políticas: carreira profissional, notabilização intelectual e afirmação política

Abstract

A manifestação de certas disposições culturais e a possibilidade de conquistar notabilidade como "intelectual" se constituem em atributos valorizados e valorizantes da biografia de certos políticos profissionais. Do mesmo modo, a acumulação de atribuições políticas associada a um repertório de missões orientando diferentes modalidades de intervenção no espaço públi-co compõem trunfos imprescindíveis para incensar a produção de bens simbólicos e as inscrições no mundo cultural. Essa via dupla de intercruzamentos entre lógicas e domínios políticos e culturais tem sido explorada em trabalhos dedicados à análise de agentes que concentram recursos e "habilidades" propícias à manipulação da "arte da representação" (política e cultural)1 . Em uma pesquisa mais ampla, foram estudados os perfis sociais, políticos e culturais de parlamentares que chegaram aos cargos de deputado federal e senador, entre 1945 e 2010, e cujas trajetórias são marcadas tanto pelo empenho na ocupação de cargos eletivos quanto na produção escrita. Naquele momento, o teste de correlações entre pa-

Porta-vozes do mundo social

“…Eles possuem uma volumosa produção escrita e são notabilizados, pela mídia, enquanto porta-vozes da causa "educaç~o" 4 ; tema que os move, tanto na política, quanto em outras esferas de atuação, esse tem sido, por exemplo, o assunto central de seus escritos e a ênfase das ONGs em cujos agentes se inserem. Inspiramo-nos aqui em uma pesquisa mais abrangente sobre trajetórias e produção intelectual de políticos brasileiros (GRILL e REIS, 2012).…”

“…Diversos estudos (DOS ANJOS, 2002;SIGAL 2012;GRILL e REIS, 2012 indicam a relação entre os intelectuais e a política (em sentido amplo). Examinamos, assim, possíveis relações entre perfis sociais, políticos e ideológicos desses profissionais da política e seus investimentos em diferentes domínios culturais -bem como os mecanismos históricos e sociais que estimularam o engajamento nessas duas áreas (carreira política e produção de bens culturais).…”

“…Visamos compreender como a produção intelectual -mais especificamente, a escrita -se torna um recurso de afirmação de legitimidade importante para a conquista de posições de destaque no espaço político. Grill e Reis (2012), em um estudo mais amplo, localizaram 1.181 agentes (entre Senadores e Deputados Federais) com carreiras eletivas entre 1945 e 2010, que possuíam livros dos mais diversos gêneros, desfrutando de notoriedade enquanto políticos e intelectuais. Em seguida, a partir de critérios de regularidade nas carreiras políticas (longevidade no tempo de ocupação de cargos) e de consistência na produção escrita (número de livros publicados), os autores chegaram a 299 casos, possibilitando a realização de novos recortes (seja através da localização de temáticas comuns -como no caso dos agentes aqui em voga -ou de marcadores de excepcionalidade -como a escrita de memórias e autobiografias, que são produções minoritária entre os 299 agentes).…”