HISTÓRICO DA PESQUISA 1. A primeira incursão de Oswald de Andrade nos jornais: recorte das fontes primárias. Mário da Silva Brito (1992) no ensaio que compõe a introdução de O Perfeito Cozinheiro das Almas deste Mundo caracteriza o diário coletivo da garçonnière de Oswald de Andrade como "um grande caderno de duzentas páginas, medindo trinta e três centímetros de altura por vinte e quatro de largura [...] escrito a tinta roxa, verde e vermelha, ou a lápis às vezes (In: ANDRADE, 1992, p. VII)". A descrição do suporte material que constitui a obra surge como um primeiro recurso de ambientação que prepara o salto temporal e memorialístico em que aquele caderno […] se transforma num diário dos frequentadores da garçonnière, provida de fonola e alguns discos, que Oswald mantém à Rua Libero Badaró, 67, 3º andar, sala 2 [...] [onde] há de tudo: pensamentos, trocadilhos (inúmeros), reflexões, paradoxos, pilhérias com os habitués do retiro, alusões [...] a fatos recentes da cidade, a autores, livros e leituras, [...] a peças em representação nos palcos de São Paulo, às companhias francesas em tournée pelo Brasil. (Idem. In: ANDRADE, 1992). Neste ensaio introdutório, assim como em História do modernismo brasileiro: antecedentes da Semana de Arte Moderna (1997), Brito coleta informações para apresentar o panorama artístico e cultural que antecede 1922. O estudioso capta os autores, tal como atores que figuram em uma época, registrando suas experiências, observações, e interpretações em obras ficcionais, históricas e artigos jornalísticos, dos quais parcelas significativas estão preservadas nos acervos históricos.Esta dissertação, um pouco devedora daquela técnica de reconstituição de um momento histórico ou mesmo de um instante para elaborar uma interpretação literária, reuniu dos acervos culturais e históricos alguns vestígios do período em que o jovem Oswald de Andrade assina J. Oswald, como, por exemplo, no ano de 1909, quando escreve a crônica de viagem "Pennando", na qual narra a excursão oficial do presidente Afonso Penna de São Paulo a Curitiba. Na ocasião, acompanhou "sempre meia hora depois", como enviado do Diario Popular, a recepção do presidente em algumas das cidades cruzadas pela estrada de ferro que levava até Curitiba. A sofrida cobertura do itinerário presidencial dá lugar às mais diversas histórias do dia a dia captadas pelo jovem repórter:Com dois nn, sim: Pen-nan-do, de penaracompanhar o Dr. Afonso Penna. Conhecem-no, não?! Um senhor muito patriota, Presidente da República, e muito firme. Não imaginam que gosto fazia de vê-lo desembarcar direitinho e passear os olhos presidenciais por aquelas terras ubérrimas e pelas obras de engenharia, sacodindo sempre a cabeça em ar de quem aprova. Mas o Dr. Afonso Penna, apesar de chefe da Nação e de clou da festa, não nos divertiu nem nos deslumbrou; também, por ordem de S.S., andávamos sempre meia hora depois, a imprensa, sim, meia hora depois. Por isso vamos falar somente dos que nos fez rir e do que nos fez chorar durante esta famosa viagem de seis dias.Como sabe...